A REVOLUÇÃO CUBANA E A REVOLUÇÃO 4.0
Luis Carlos Marrero
O ser humano sempre esteve em processo de evolução. A necessidade constante de ir
assumindo novos desafios parece ser um determinante bio-psicossocial-cultural-político e
espiritual da humanidade. Assim, este desejo primário de evolução nos levou a múltiplas
revoluções, em diversos sentidos: políticas, culturais, sexuais, de gênero, entre outras que
poderíamos seguir mencionando.
Vivemos em um cenário complexo de interconectividades. O mundo e seus chamados
confins deixaram de ser secretos e desconhecidos. Com apenas um acesso à internet
podemos encontrar milhões de informações – verídicas ou não- sobre qualquer assunto a
investigar. A era da conectividade nos aproximou ainda mais: já não há fronteiras, é possível
viajar o mundo inteiro com tão somente apertar uma tecla de qualquer computador.
Encontramo-nos hoje no que veio a ser chamado de a Revolução 4.0, ou Quarta
Revolução Industrial. Vale recordar que a Primeira Revolução Industrial teve suas origens no
final do século XVIII. A aparição da máquina a vapor substituiu os teares mecânicos, e com isso
parte da mão de obra humana.
Estas primeiras “programações” foram conduzindo à aparição das energias elétricas,
originando deste modo a chamada Segunda Revolução Industrial. Aparece com ela a produção
em cadeia e a necessidade de mão de obra humana seguiu diminuindo. Vale lembrar que tanto
o vapor de água como a eletricidade conduziram a um desenvolvimento de tecnologias e
máquinas para produzir valor.
Já no fim dos anos 60 do século passado, surgem os chamados controladores lógicos
programáveis. Foi um computador utilizado na engenharia para industrializar processos
eletromecânicos, dando passo à chamada Terceira Revolução Industrial, fundada desde seus
inícios nas teorias físicas e alguns materiais deste século.
Assim chegamos ao nosso século XXI. O desenvolvimento em matéria tecnológica e
digital caminha a passos acelerados. Estamos em uma nova era onde os cenários são
imprecisos e o virtual parece ir cobrando mais espaço-tempo sobre a realidade. Entramos na
chamada Revolução 4.0, que teve sua origem em uma proposta do governo alemão a partir de
2011, oficializada em 2015 e que propôs de maneira sucinta a utilização da informática, a
robótica e a automatização para a produção de bens e serviços, englobando em seu trabalho a
nanotecnologia, a biotecnologia, a robótica, introduzindo oficialmente à inteligência artificial.
Acompanhando este processo, apareceu também no final do século XX o chamado
“Trans-humanismo” ou “Homem + +” corrente filosófica, psicológica e biológica, que pretende
criar uma espécie de super-humano, que não terá sentimentos nem enfermidades, nem
envelhecerá.
Em meio a estes cenários, em Cuba, onde ainda contamos em alguns lugares com
tecnologia analógica, já se vem prevendo há alguns anos e com grandes esforços, a entrada do
país no que, a partir de instâncias governamentais e científicas, se denominou a
«Informatização da Sociedade». O governo atribui recursos para que nosso país acompanhe os
tempos. Nossos avanços no campo da biotecnologia e nanotecnologia estão tendo excelentes
reconhecimentos internacionais na esfera da saúde e a digitalização de processos em bens e
serviços vão permitindo as facilidades de vida de nosso povo.
Segundo alguns estudos existem organismos e empresas que já estão se inserindo
nesta nova revolução e mostram alguns resultados satisfatórios nas áreas de petróleo e
eletricidade, em processos de automatização e digitalização industrial.
A Universidade de Ciências Informáticas tem a seu cargo a criação da maioria dos
programas e aplicações que são usadas para muitas empresas, instituições, ministérios e
governos locais.
Para os próximos anos, está prevista a tecnologização e digitalização de indústrias
como a alimentar, a açucareira e a de materiais de construção, as quais necessitam destas
tecnologias para poder ser competitivas no mundo de hoje.
Outras especialidades desta Quarta Revolução Industrial também estão presentes e
são estudadas minuciosamente para sua implementação. Entre elas poderíamos citar a
chamada Inteligência Artificial já que a mesma tem um rol importantíssimo para a criação de
sistemas que assimilem e se adequem de forma autônoma às produções.
Também a hiperconectividade ou a «Internet das Coisas» faz parte destes estudos,
pois ajuda a promover a conexão entre os objetos eletrônicos que compõe uma fábrica ou
uma instituição, com o objetivo de obter informação sobre o processo de fabricação ou dados
para otimizar a produtividade e os resultados; acompanhado da cibersegurança. Existem no
país empresas encarregadas de proteger as informações.
Outra característica é o armazenamento “na nuvem”. Cada vez se gera mais
informação a ser processada e armazenada pelas organizações. A informação digitalizada se
armazena na «Nuvem», de forma que todos os participantes possam acessá-las no momento
que seja preciso. O desafio consiste nos lugares de armazenamento – os chamados Servidores
de Big Data – pois cada vez ocupam mais espaço físico, e não contribuem muito com o meio
ambiente devido ao custo energético que necessitam para seus sistemas de resfriamentos.
Há muitos outros elementos que poderíamos apontar, como são a produção aditiva ou
impressão 3D, a robótica, os sistemas ciberfísicos, a fábrica 4.0, a produção real e aumentada,
entre outros, e cada um mereceria um artigo. No entanto, a sociedade cubana segue
envelhecendo a um ritmo acelerado, e o aumento de pessoas com 60 anos ou mais têm
resultados significativos. Ainda que esta Quarta Revolução Industrial ou Informatização da
Sociedade - como conhecemos em Cuba – tenha sido colocada entre as prioridades da Nação,
deve se ter em conta estes indicadores que aportam as ciências sociais e as investigações no
país.
“Segundo dados brindados pelo Centro de Estudos da População e Desenvolvimento
(CEPDE), as projeções da população cubana indicam que, como tendência, a cifra de pessoas
que chegam à idade laboral continuará descendo, enquanto que a das que chegam à de
aposentadoria ascenderá até 2033. Com altas e baixas destes indicadores, entre os anos 2021
e 2045 poderia se acumular um déficit que superaria os 815 mil efetivos no mercado laboral.”
Para o Doutor em Ciências Luis A. Montero Cabrera, presidente do Conselho Científico
da Universidade da Havana, «Este panorama impõe que a sociedade se reconfigure, e com ela
seus entornos laborais. Serão necessárias, então, a qualificação e requalificação da força de
trabalho em busca de aumentar sua produtividade, sobretudo quando esta comece a
decrescer. Outro sábio conselho seria que “ à medida que diminua o capital humano, se invista
em desenvolvimento tecnológico em busca de compensar a fórmula».
Cada vez mais cresce o capital destas novas tecnologias e em ocasiões supera nossa
imaginação e a maneira como nos relacionamos conosco mesmos. Não há dúvida de que esta
Quarta Revolução está aqui e veio para ficar. O que vamos fazer com ela depende de cada um
de nós.
Gostaríamos de recordar a interpelação de Jesus aos fariseus quando seus discípulos
abriam caminho arrancando espigas em um sábado, dia de descanso segundo a lei judaica: «E
disse aos fariseus: o sábado foi instituído para o homem, e não o homem para o sábado» (cf.
Marcos 2,27)
Parafraseando hoje esta metáfora nos colocamos diante do desafio ético de perguntar:
a tecnologia estará a serviço do ser humano ou o ser humano a serviço da tecnologia? Cada
vez os avanços tecnológicos nos acercam de maneira virtual, mas nos distanciam e confinam
de nossa essência humana. Já não estamos conversando como nos tempos de outrora; hoje
participamos de chat, respondemos a enquetes, trocamos email, damos likes. Até a
capacidade de escrever vamos perdendo; só usamos algumas letras e símbolos.
Confiamos que, entre as tantas revoluções que Cuba teve que defender, a Revolução
4.0 nos sirva para obter melhores resultados para nosso país em vista de seguir dignificando o
ser humano e a natureza. Outra maneira de nos relacionarmos com os avanços tecnológicos
também é possível.
A decisão está em nossas mãos.