Como uma introdução fraternal Revolução (4.0) à vista!
José María Vigil e Pedro Casaldáliga
Sim, é um aviso para navegadores: um tsunami está se aproximando e já estamos entrando em sua revolução. Não foi decidido por ninguém. É como a tempestade, que surge por si mesma, do seio dessas águas agitadas do oceano, que vinham se carregando perigosamente com energia; são muitas forças, juntando-se que encontraram uma saída, e já não vai ser possível detê-las.
Estamos diante da Revolução 4.0, que não é, tecnicamente, algo radicalmente novo, ou totalmente desconhecido, "nunca visto"; ao contrário, já é - uma convergência múltipla, crescente de ciências e tecnologias - também "aplicada", por certo -, para as que soou sua oportunidade histórica: é o momento, e vêm arrasando, com todo o seu poder desdobrado! O vigia do barco não pode dizer muito mais. O seu papel é apenas avisar. Ele diz o que vê e é urgente que todos se preparem.
Há aqueles que só veem negatividade: um aprofundamento do neoliberalismo; um novo ataque colonial do Ocidente, que repete cinco séculos depois sua conquista de espoliação extrativista e cognitiva; uma degradação ainda maior da raça humana, perdida pela tecnologia e pelo cientificismo. Não há nada a fazer além de amaldiçoar a escuridão, resistir ao ataque, recusar o diálogo e a colaboração, sempre culpar a tecnologia.
Outros – quantos jovens, principalmente se deslumbram com a tecnologia -, ficam simplesmente absorvidos por suas redes sociais, suas fotos, suas listas de canções... reféns «dentro da caixa», sem memória histórica e sem consciência de seu povo, apátridas e sem destino, carne de canhão para a construção de um novo mundo velho mais desigual e com mais parias de descarte que nunca.
Entre uns e outros, o vigia deste Livro-Agenda, urge a todos a tomar seriamente esta revolução inédita na história do mundo. Talvez, tampouco nunca tivemos tantas informações como agora sobre o que se avizinha... Nem nunca tivemos tantas formas de comunicação, de organização, de tornar potentes nossos movimentos sociais, de unificar nossa voz e de fazê-la ouvir mundialmente... É a hora da ação, da ação coordenada, do sentido crítico, de possibilidades tecnológicas inéditas a nosso alcance, como nunca antes!
Sempre, de alguma maneira, a próxima batalha é a batalha definitiva... e não há batalha mais perdida do que a que não se chega a travar... Não podemos faltar a este encontro, isso poderia resultar em uma vitória decisiva. É uma nova hora, e nossa força está onde sempre esteve, na força da razão, livre de ter que enfrentar a razão da força.
Talvez o mundo esteja em um momento ótimo de capacidade de consciência para poder ser convencido. Somos agora 2500 bilhões de pessoas, que estão conectadas à rede telemática global, como uma rede neural de superconsciência da humanidade, da qual todos podemos participar, sem que ninguém seja capaz de silenciar nossa voz. É a primeira vez que temos uma infra-estrutura pronta e crescente. Quando chegaremos ao ponto de massa crítica que introduz a inflexão de consciência de que precisamos? Não pode ser agora, no seio desta Revolução que sobretudo é de software?
Esta, sim, que já é a hora de empurrar esse governo mundial, do qual faz tempo nós viemos reclamando, a hora de apelar à nova consciência mundial para exigir uma distribuição justa e equitativa das vantagens da tecnologia, proibindo sua apropriação privada; uma democracia real é tecnicamente possível, não simplesmente um voto periódico representativo; agora é possível implementar a biocracia planetária e acabar com a ditadura dos direitos humanos antropocêntricos acima da comunidade da vida. São utopias, que há apenas algumas décadas eram ainda sonhos irrealizáveis, mas é a primeira vez que temos meios tecnológicos de que esses sonhos caiam pelo seu próprio peso, como um fruto maduro de uma acumulação de desejos, lutas e aumento da consciência.
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Não temos bola de cristal, nem podemos fazer uso de algoritmos...; porém acreditamos que não se trata apenas de «defender-se» contra a tecnologia... mas de ir à sua abordagem, saltar nela, até onde seja possível para cada um e, de dentro encontrar aliados e redes para criar o que só por dentro será possível inventar: a Nova Sociedade. Dos ousados e dos otimistas é o futuro...
Como Isaías tinha dito, o caminho para um "novo êxodo está se abrindo diante de nós, não percebem?" (Is 43, 19).
Ao embarque! Vamos entrar no Revolution 4.0 para reverter isso.
Nota: Bom momento este da revolução tecnológica, para mudar de mãos o leme. Pedro Casaldáliga y José María Vigil aproveitamos para nos despedirmos, sem barulho, nem distrações. Foram 29 anos (1992-2020) de cabotagem pelos oceanos da Pátria Grande: um privilégio, o ter podido prestar este humilde serviço pedagógico. Esperamos que outras mãos assumam e melhorem o rumo do Livro-Agenda Latino-americana, inclusive que a reinventem. Acompanharemos fraternalmente da vizinhança. O Livro-Agenda está viva e goza de boa saúde, e a sua aventura pode continuar, pois pertence a todos aqueles que a tornaram possível: centenas de nomes de autores/as, editores, distribuidores, leitores, comunidades, difusores... que com ela compartilharam seu canto e sua esperança. No ano que vem, cada um se informe com os editores/distribuidores locais. Até sempre. OBRIGADO!