COMPROMISSO, SOLIDARIEDADE E OUSADIA

 

Queridos irmãos e irmãs, companheiros/as de caminhada,

Os vários artigos de nosso Livro-Agenda Latino-Americana de 2020, nos fazem refletir os desafios que vêm pela frente, gigantescos. Ao mesmo tempo, nos dão pistas para avançar em nossa luta e organização popular. Dom Hélder Câmara já dizia: “Uma andorinha só não faz verão, mas anuncia!” Cada gota lançada ao fogo traz mais um pouco de esperança de que o incêndio se apagará. Se um pequeno gesto é capaz de remover montanha, uma ação organizada e consciente é capaz de transformar a realidade em sua profundeza.

A Revolução 4.0 não se fez do acaso. É parte de um processo maior, a serviço de um sistema maior. Sua relação com a Revolução Industrial, com a criação dos Estados Modernos, com a Burguesia, com os Estados Absolutistas, com os Regimes Escravistas, com o descobrimento da pólvora, da máquina a vapor, do fogo, da roda... A questão não é apenas ser contra ou a favor desses sistemas, mas a quem eles servem.

Esse avanço tecnológico se torna uma das grandes ferramentas para a disputa de mercado. É o Capitalismo contra o próprio Capitalismo. Grandes potências se enfrentam, em uma concorrência devastadora, como verdadeiro show de vale-tudo. E tudo isso tem um preço.

O mundo sofre uma crise de hegemonia. A disputa central - econômica, política e ideológica - entre os Estados Unidos e a China. De um lado, o ultraconservadorismo, o patriotismo e a religião, família e Deus tornaram-se palavras de ordem entre os aliados desse sistema. De outro lado, o liberalismo, a Democracia e os Direitos Humanos, sob a pecha de ultrapassados.

Os impactos e as consequências para a América Latina e para o Mundo são desastrosos. Instabilidade, fraca economia, fraca política, perda de direitos sociais e previdenciários, ajuste econômico, aumento do desemprego, da violência, da miséria. Portanto, crises em várias dimensões e diversos âmbitos, levando países como a Venezuela, Brasil, Argentina e outros, na era Trump, a situações limites, com a herança do que já se passou em Honduras, Paraguai, Colômbia, Equador, Chile...

Com ataque direto a governos considerados “progressistas”, a perseguição às organizações sociais e populares também se acirram. O desgaste às suas imagens, uma grande propaganda para depreciar sua forma de organização e de luta, a prisão de suas grandes e históricas lideranças... Com o povo dividido, repercutindo essa cisão no próprio interior das famílias. Lutar pela defesa da Democracia e dos Direitos Humanos se torna ação ridicularizada, ultrapassada, criminalizada.

Mas o povo não permanecerá à margem, passivo na História. Recorrendo às teologias, à ciência, à tradição cultural e a sua história de luta, para iluminar o caminho e enxergar o que está por trás dessa conjuntura, apontando um horizonte possível, se organiza e se põe a lutar não só na espontaneidade exigida quando seus direitos são subitamente retirados, mas também de forma estratégica e política, lançando mão de todo o acúmulo que sua experiência histórica e suas tradições culturais e espirituais lhes ensinam.

O mundo mudou, a sociedade mudou, a forma de se aplicar a economia, daí também a política, as relações sociais, a ideologia também mudaram. O que exige de nós um novo jeito de agir, novas formas de nos organizar, de discernir a realidade e divulgar as propostas de saída para o momento difícil que vivemos. As comunidades indígenas com o seu paradigma do Bem-Viver e as tradições afrodescendentes com sua valorização da natureza, considerada sagrada e fonte de energia vital (Axé) apontam o rumo de uma Ecologia integral e uma nova forma de organizar a vida e o mundo.

A caminhada se faz dura, mas de libertação: os desafios, as demandas, as ações necessárias para fortalecer o poder popular; a ação das organizações de trabalhadores e trabalhadoras, tanto no campo quanto na cidade; a articulação e mobilização, a conscientização coletiva, a construção da unidade latino-americana a partir dos pobres, na construção da Pátria Grande Mundial.

Etimologicamente, “agenda” significa “as coisas a serem feitas”. Este Livro-Agenda Latino-americana Brasil quer servir para apontar os desafios e estimular todos os companheiros e companheiras, para que se coloquem conosco, a fim de vivermos juntos esse compromisso com ousadia e coragem. Que a força do Amor presente em nós e no Universo nos anime e nos fortaleça nessa caminhada.