Dados sobre a situação ambiental

Dados sobre a situação ambiental

Washington NOVAES


A) AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS JÁ EM CURSO

Previsão do PIMC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas): se as emissões de gases que intensificam o efeito estufa continuarem no ritmo atual, no século XXI a temperatura da terra se elevará entre 1,4 e 5,8 graus Celsius; o nível dos oceanos subirá entre 18 e 59 cm; secas, inundações e outros desastres aumentarão. Nota: Os relatórios do PIMC só incluem conclusões de consenso entre seus participantes e com mais de 90% de probabilidade de acontecerem.

Temperatura sobe mais

Últimos cálculos do PIMC: em qualquer hipótese, até 2050 a temperatura aumentará dos 0,8 atuais para os 2 graus. Para evitar mais de 2 graus, as emissões terão de ser reduzidas até lá em pelo menos 80%. Agência Internacional de Energia: o aumento mínimo será de 3 graus.

Recessão à frente?

Mas as emissões continuam aumentando. Relatório Stern: se as emissões não baixarem 80%, enfrentaremos a pior recessão econômica de todos os tempos. Temos menos de uma década para resolver, aplicando de 2 a 3% do produto mundial por ano (de US$ 1,2 trilhão a US$ 1,8 trilhão).

Balanço dos desastres

Em 2008, os «desastres naturais» atingiram 211 milhões de pessoas no mundo e deixaram 235 mil mortos. Prejuízos de 181 bilhões de dólares. Em 10 anos, 835 bilhões. O Brasil já é o 13º país em vítimas.

As emissões crescentes

Em 2007, as emissões de gases do efeito estufa no mundo estiveram acima de 25 bilhões de toneladas. Os EUA respondem por cerca de 21% do total, mas a China já se tornou a maior emissora, com 24%. O Brasil já é o quarto maior emissor: mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 (inventário de 1994) e mais de 30 milhões de toneladas de metano.

O papel de cada país

As nações do G8 emitiram em 2007 cerca de 14,3 bilhões de toneladas, 2% a mais que em 2000. E 0,7% acima de 1990 (quando deveriam estar 5,2% abaixo). Os Estados Unidos emitiram 16,3% mais que em 1990 e 1,6% mais que em 2000. Só Alemanha, Inglaterra e França reduziram suas emissões.

Estudo do Banco Mundial em 2007 aponta para o Brasil mais de 2 bilhões de toneladas de carbono em 2004, cerca de 40% mais que os números do inventário brasileiro de 1994.

Segundo Sir Nicholas Stern: o Brasil já está gerando de 11 a 12 toneladas anuais por habitante. Isso significaria mais de 2,2 bilhões de toneladas/ano. O novo balanço prometido para 2008 ficou para 2009.

Desmatamento e clima

Quase 75% das emissões brasileiras se devem a mudanças no uso do solo, desmatamentos e queimadas, principalmente na Amazônia. De 2000 para cá, o Brasil já desmatou mais de 150 mil Km2.

As projeções do consumo

Agência Internacional de Energia: o consumo de energia no mundo poderá aumentar 71% até 2030. A temperatura subirá 3 graus até 2050. Na China, crescerá 33% em uma década. Na Índia, mais 51% em uma década. Os países industrializados precisam reduzir suas emissões entre 60 e 80% até 2020; esses países consomem 51% do total da energia no mundo. Um habitante desses países consome em média 11 vezes mais energia que um dos países pobres.

A Agência Internacional de Energia prevê que serão necessários investimentos de 45 trilhões de dólares nos próximos 15 anos em novas fontes de energia.

A esperança de Kyoto

O Protocolo de Kyoto, que regulamentou em 1997 a Convenção do Clima, de 1992, estabeleceu que os países industrializados reduzam suas emissões em 5,2% entre 2008 e 2012. EUA não homologaram.

O xis da questão

Problema central: não temos nem instituições, nem regras universais, capazes de promover as mudanças necessárias na escala global. As reuniões de convenções da ONU exigem consenso para tomar decisões – dificílimas, por causa dos interesses contraditórios.

De onde virá a energia

Agência Internacional de Energia: no ritmo atual, o petróleo cairá de 38% da energia total para 33% em 2030. O carvão passará de 24 para 22%. O gás aumentará de 24 para 26%. Energias renováveis subirão de 8 para 9% do total. Energia nuclear passará de 2,532 bilhões de KWh (2003) para 3,299 bilhões de KWh.

Esperanças na tecnologia

Tecnologias em desenvolvimento: 1) sequestro e sepultamento de carbono no fundo do mar ou campos de petróleo esgotados; 2) células de combustível; 3) veículos híbridos; 4) energias eólica, solar, de marés, biocombustíveis.

Os novos fatores

Al Gore: «Hoje, vivemos uma emergência planetária». O governo Barack Obama autorizou os Estados a estabelecer limites de poluição e consumo por veículo. O novo Congresso, influenciado pela opinião pública, está mudando muito e poderá aprovar legislações mais positivas.

As dimensões do desafio

Rick Samans, presidente do Fórum Econômico de Davos: «O desafio na área do clima é assustador. Estamos 15 anos atrasados».

Carlos Nobre (INPE): «Não há como reverter o quadro: a roda já está girando a uma velocidade tão alta que não dá mais para parar; talvez dê para diminuir».

Os riscos da inação

Sir Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, em relatório para o governo britânico: Mudanças climáticas poderão mergulhar a economia mundial na pior recessão global da história recente.

Os tempos à vista

Sir Nicholas, em 2006: «Os governos precisam enfrentar o problema reduzindo emissões de gases. Temos menos de uma década para fazê-lo». Sir Nicholas, em 2008: «Fui muito otimista em 2006; não temos uma década».

Melhor a fazer

Esses investimentos serão uma oportunidade de chegar a uma matriz energética com emissão zero. E será algo na direção oposta à de um declínio econômico. Custará menos enfrentar o problema que pagar o preço das consequências, se não o fizermos.

Sinais de otimismo

Há vários sinais otimistas em algumas partes. Mas há também muitas interrogações, por causa da atual crise econômico-financeira. O prazo para novo acordo (pós-Kyoto) é dezembro de 2009, em Copenhague. Se não houver acordo em Copenhague, ficará sem regras para depois de 2012. O que acontecerá com o Mecanismo do Desenvolvimento Limpo e o mercado de carbono, que hoje movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano?

Avanços nos EUA, recuo europeu

Doze Estados e mais de 300 cidades dos EUA já definiram metas para a redução de emissões ou aumento de eficiência no uso de energia, principalmente combustíveis fósseis. Agora, com a autorização de Obama, poderão levá-las à prática.

A Europa se dispusera a financiar, com 30 bilhões de euros, programas de redução nas emissões dos países em desenvolvimento. Agora, com a crise financeira, recuou.

A Alemanha definiu meta de redução de emissões até 2020 em 40% sobre 1990. A Grã-Bretanha fixou redução de 80% das emissões até 2050. A Europa assumiu o compromisso de reduzir suas emissões em 20% até 2020.

Novas preocupações

OTAN alerta que degelo no Ártico até 2013 poderá gerar graves conflitos entre países pelo domínio de rotas de navegação e áreas para exploração de petróleo.

IUCN alerta que já estão ameaçadas 35% das espécies de pássaros, 52% dos anfíbios e 71% dos corais.

B) NOSSO ESTILO DE VIDA INSUSTENTÁVEL

Não é apenas o clima que ameaça o futuro da humanidade. Vivemos um novo tempo. Não se trata apenas de cuidar do meio ambiente. Trata-se de não ultrapassar os limites que colocam em risco o planeta e, com ele, nossa própria vida.

A segunda grande questão, segundo Kofi Annan, está nos atuais padrões globais de produção e consumo de recursos e serviços naturais, além da -capacidade de reposição da biosfera terrestre.

Padrões de produção e consumo

Relatórios Planeta Vivo e Greenpeace: Estamos consumindo no mundo 30% além da capacidade de reposição do planeta nos recursos naturais. A «pegada ecológica da humanidade», que mede o impacto sobre o planeta, triplicou desde 1961. A pegada ecológica no mundo já é de 2,7 has por pessoa, acima da disponibilidade média, de 1,8 has.

Um cenário assustador

Segundo previsões da ONU: em meio século, a exigência humana sobre a natureza será duas vezes superior à capacidade de produção da biosfera. É provável a exaustão dos ativos ecológicos e o colapso do ecossistema em larga escala.

A pegada ecológica humana

A pegada ecológica mundial já é de 14 bilhões de hectares. Entre os países de pegada mais alta, a dos EUA é de 2,8 bilhões. A da China, 2,15 bilhões. Da Índia, 802 milhões. Rússia, 631 milhões. Japão, 556 milhões. Brasil, 383 milhões. A pegada ecológica per capita dos EUA é de 9,6 hectares. Do Brasil, 2,1 has.

Agravando o problema, relatórios do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) dizem: os países industrializados, com menos de 20% da população mundial, concentram 80% da produção, do consumo e da renda totais.

PNUD: se todas as pessoas consumissem como os norte-americanos, europeus ou japoneses, -precisaríamos de mais nove planetas para suprir os recursos e serviços naturais necessários (Informe PNUD 2007- 2008).

Destruição inédita

Estamos deteriorando os ecossistemas naturais a um ritmo nunca visto na história da humanidade. Quase um terço das espécies conhecidas se extinguiu em três décadas. A biocapacidade da Terra constitui a quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta e pesca – disponível para atender às necessidades humanas.

As populações de espécies tropicais diminuíram 55%. A conversão de áreas para a agricultura é o fator principal de perda do habitat das espécies.

Os manguezais, berçários de 65% das espécies de peixes tropicais, estão sendo degradados a um ritmo duas vezes superior ao das florestas tropicais. Mais de um terço da área global de manguezais foi perdido entre 1980 e 2000. Na América do Sul a perda foi de 50%.

Onde está a renda

As três pessoas mais ricas, juntas, têm ativos superiores ao PNB anual dos 48 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas; 257 pessoas, com ativos superiores a 1 bilhão de dólares cada um, juntas têm mais que a renda anual conjunta de 45% da humanidade, 2,8 bilhões de pessoas.

Hoje, os países em desenvolvimento pagam mais de 1 bilhão de dólares em juros por dia aos bancos internacionais.

Crise civilizatória

Vivemos uma crise de padrão civilizatório. Nossos modos de viver são insustentáveis, incompatíveis com os recursos do planeta, mesmo com 800 milhões de pessoas passando fome e mais de 2,5 bilhões abaixo da linha de pobreza (2 dólares por dia).

Quanto vale o que temos

Robert Constanza e mais 13 cientistas da Universidade da Califórnia: «Se tivéssemos de substituir serviços e recursos naturais, como fertilidade do solo, regulação do clima, fluxo hidrológico e outros (que nada nos custam) por ações humanas e tecnologias, eles custariam três vezes o produto bruto mundial de um ano».

Crescimento resolve?

O que se vai fazer? Crescimento econômico, puro e simples, seria a solução? Edward Wilson: «Se o PNB mundial, hoje na faixa dos 60 trilhões de dólares, tiver um crescimento moderado, de 3,5% ao ano, chegaria a 2050 com 158 trilhões de dólares. Mas não chegará: não há recursos e serviços naturais para isso».

O que terá de mudar

Será indispensável praticar padrões de consumo que poupem, que não desperdicem recursos. As matrizes energéticas terão de ser reformuladas. Fatores e custos ambientais terão de estar no centro e no início de todas as políticas públicas e de todos os empreendimentos privados, para serem avaliados, aprovados ou não, atribuídos a quem os gera.

E a comunicação e a educação precisam mudar. Precisam informar a sociedade, permanentemente, das questões em jogo e das soluções possíveis.

Para que a sociedade, informada, se organize e passe a levar esses problemas para as campanhas eleitorais, exija dos candidatos que se posicionem.

 

Washington NOVAES

São paulo, SP, Brasil