DECIDIDO: 2050, FIM DOS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS NA EUROPA
Manuel Planelles, Álvaro Sánchez
A era da combustão na Europa - em que o carvão, o petróleo e o gás natural
têm sido os motores da economia próspera - tem uma data de expiração em 2050. A
Comissão Europeia propõe que as emissões de gases com efeito estufa desapareçam
em meados deste século, o que implica deixar de lado os combustíveis fósseis que
provocaram o crescimento do Ocidente, desde 1950. Bruxelas afirma que, até 2050,
80% da eletricidade seja renovável e que se deve taxar impostos contra as tecnologias
mais sujas. Em contrapartida, a Comissão destaca os benefícios econômicos que serão
reportados à Europa.
O Acordo de Paris reconhece que o aquecimento global já é irreversível, razão
pelo qual os signatários concordam que o aumento da temperatura no final do século
não supere uma escala de 1,5 a 2 graus. É a margem para evitar as piores catástrofes
climáticas. Atingir essa meta requer que todos os países apresentem planos para reduzir
os gases de efeito estufa. A Europa, agora, é responsável por 10% das emissões
globais.
A estratégia de "emissão zero em 2050" implica o aumento da ambição
europeia na guerra contra o aquecimento. Em 2009, a UE estabeleceu uma redução, em
2050, de 80% para 95% de suas emissões. A Comissão tenta dissipar receios quando
recorda, na sua estratégia, que pode haver crescimento econômico e reduzir os gases
com efeito estufa ao mesmo tempo. A Europa fez isso: entre 1990 e 2016, essas
emissões caíram 22%, enquanto o PIB cresceu 54%. Com a sua proposta, Bruxelas
agora envia um forte sinal político, também para setores como energia ou transporte,
com a indústria automotiva já embarcando em uma corrida tecnológica para se adaptar
ao novo modelo.
O documento insiste nos benefícios dessa corrida de longa distância. Os
impactos econômicos globais "são positivos, apesar dos investimentos adicionais
significativos que eles exigem", observa a Comissão. De acordo com os cálculos de
Bruxelas, o PIB aumentará em mais 2% com políticas de descarbonização que levarão
ao objetivo de "emissões zero". E isso, sem levar em conta o benefício econômico de
erradicar os danos causados pela mudança climática, que um recente relatório oficial de
Bruxelas estimou em 240 bilhões de euros por ano, se o Acordo de Paris fracassar.
Os Vinte e Sete – países que compõe a Comunidade Europeia – ainda devem
dar luz verde a essa estratégia. A predisposição parece favorável. Ministros do Meio
Ambiente de uma dúzia de Estados – incluindo Espanha, França e Itália – assinaram
uma carta conjunta ao Comissário de Ação para o Clima e Energia, Miguel Arias Cañete,
para exortá-lo a ser ambicioso e cumprir a meta de "emissões zero em 2050". No
entanto, países como a Alemanha, o motor econômico europeu, não falaram sobre isso.
Arias Cañete salienta que o plano de Bruxelas também "reduzirá as mortes
prematuras pela poluição do ar em mais de 40%, e os custos de saúde serão reduzidos
em 200 milhões de euros anualmente". Os cálculos da Comissão preveem uma enorme
economia, graças à falta de dependência das importações de petróleo: no total, entre
dois e três bilhões de euros entre 2030 e 2050.
A estratégia da Comissão é explícita quando aborda a transformação do setor
elétrico: a redução dos custos das energias renováveis permitiu uma rápida
implementação destas energias limpas. Até 2050, "mais de 80% da eletricidade virá de
fontes renováveis". Isso supõe o fechamento de todas as fábricas de carvão e gás
natural.
No caso dos transportes, em que existem pressões significativas das
montadoras, embora o documento refira a importância da eletrificação de carros e
caminhões, a Comissão não fecha a porta a "combustíveis alternativos", como os
biocombustíveis. O documento inclui a técnica polêmica de captura e armazenamento
do dióxido de carbono, cercada por uma grande rejeição social; defende que sua
implantação ainda é necessária. E destaca a importância do uso de impostos e
subsídios como uma "ferramenta eficiente para a política ambiental"