É BEM ALI... NO MEIO DO MUNDO, ESQUINA COM O RIO AMAZONAS: A TRAJETÓRIA DO FÓRUM SOCIAL PANAMAZÔNICO-FOSPA

 

Em tempos de existências retraídas, gente enclausurada, de cercas levantadas, de

exclusivas relações virtuais, seria possível imaginar pessoas que teimosamente

decidem propor novos rumos de caminhar?

Sim, existem, estão espalhadas em nossa Panamazônia, com tessituras nas moradas de

nossas comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas, reservas extrativistas,

assentamentos, coletivos de mulheres e jovens, cidades, que acreditaram que é

melhor dar as mãos e realizarem a caminhada juntas.

Assim surge o Fórum Social Panamazônico (FOSPA), como espaço de envolvimento e

partilha, entrelaçando as pequenas-grandes causas em novos rumos que vão além de

suas expectativas individuais.

O FOSPA se constitui como um espaço internacional, autônomo, temático e regional e

que faz parte da constelação do Fórum Social Mundial (FSM), que se reúne a cada dois

anos, em alternância com as edições do FSM, tendo sido realizadas oito edições (Brasil:

2002-Belém, 2003-Belém, 2005-Manaus, 2010-Santarém, 2014-Macapá; Venezuela:

2004-Ciudad Guayana; Bolívia: 2012-Cobija; Peru: 2017-Tarapoto). Chegando em

março de 2020, em sua nona edição, do dia 22 ao dia 25, na cidade de MocoaColômbia.

É um evento-processo que aponta novos caminhos para o Bem-viver em aliança com

os povos indígenas, camponeses e camponesas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes,

mulheres, jovens, ativistas, redes, pastorais, comunicadores, pesquisadores,

movimentos populares, trabalhadores e trabalhadoras dos campos, das matas, das

florestas, das águas e das cidades, que envolve nove países (Brasil, Colômbia, Peru,

Venezuela, Bolívia, Guiana, Equador, Suriname, e Guiana Francesa).

Busca visibilizar as agendas políticas dos povos amazônicos, seus processos de

resistências, frente aos grandes projetos que ameaçam a vida e que se impõem às

populações e seus territórios.

Propõe alternativas que permitam construir a justiça e a igualdade social, sustentadas

por colunas de resistências participativas, comunitárias e interculturais, sob os

cuidados de seus povos.

Aproxima culturas, quebrando o isolamento das lutas, promovendo a autonomia,

atuando com justiça socioambiental.

Gesta a construção e afirmação de uma agenda comum e solidária aos povos

amazônicos, pautando uma dinâmica de onde emergem iniciativas para a defesa da

Casa Comum Pan-Amazônica, intercultural, pluridemocrática e economicamente

criativa e solidária.

O FOSPA conta com o comitê internacional, integrado por representantes dos países

amazônicos, comitês nacionais e locais, integrados pelas organizações onde se realiza

uma edição do FOSPA.

Há uma trajetória que se expressa nos tempos de Pré-Fórum, Fórum e Pós-Fórum

(devolutivas), propiciando que as etapas do FOSPA se descrevam como um eventoprocesso, sempre em mobilização, organização, formação e posicionamento na

realidade territorial.

Assim, sua expressão ganha visibilidade com a realização de diversas atividades,

círculos de cultura, oficinas de formação, rodas de conversa, marchas, feiras,

expressões culturais, ações solidárias de empoderamento, nas quais se dá a conhecer,

com os seus princípios, legado e propósitos, em construir alianças, iniciativas de ação,

colunas de resistências, campanhas, bem como produção de documentos com

denúncias, cartografia participativa, revistas, cadernos/mapas de conflitos, cartas,

produção áudio visual, sistematização de experiências, entre outras, com referências

de articulação ao micro, macro e global da Pan-Amazônia.

O Comitê local FOSPA-AMAPÁ, desde a latitude zero e na foz do Rio Amazonas, se

propõe a defender e construir a aliança entre os povos da floresta, do campo, das

cidades e das águas, combatendo no dia-a-dia o modelo de desenvolvimento predador

e patriarcal, bem como todas as formas de exploração e discriminação, baseadas em

gênero, etnia, identidade, território, natureza, epistemologias, raça e classe social.

A NOSSA CAMINHADA DO PRÉ-FÓRUM ENCONTROS: UMA VIVÊNCIA DO CUIDADO DO TERRITÓRIO E DA NATUREZA PARA O BEM VIVER.

O Pré-Fórum Encontros nos propõe vivenciar o antes, durante e depois, com uma

agenda-processo de formação, mobilização e organização das lutas populares, tendo

como base as colunas de resistências e como horizonte político pedagógico e

metodológico o CÍRCULO DE CULTURA “CUIDANDO DA AMAZÔNIA”.

O CÍRCULO DE CULTURA “CUIDANDO DA AMAZÔNIA” do FOSPA, tornou-se uma experiência amazônica de mobilização cidadã, do cuidado com o território e com a

natureza, espaços de diálogos, dinâmicos e representativos da democratização

fundamental, da força geradora-criadora de/dos diálogos, dos encontros-conexões

entre consciências, espaço privilegiado de formação política emancipatória, da

reflexão dos sujeitos sobre si, sobre a natureza, sobre o mundo e, principalmente,

sobre a transformação deste para outro mundo possível e melhor.

Assim foram sendo costuradas nas agendas-calendário de ação do FOSPA/AP, como

evento processo de ação coletiva e colaborativa, que tudo desemboca no FOSPA

Colômbia-2020.

A CAMINHADA DOS CIRCULOS DE CULTURA POR EIXO

Eixo A Defesa Do Território E O Cuidado Com A Natureza.

- I CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Diálogos para afirmação de uma agenda Pan-Amazônica do cuidado do território e natureza ocorreu em novembro de 2018, na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

- II CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Barragens no Amapá e Pará, ocorreu em fevereiro de 2019, na Universidade do Estado do Amapá (UEAP).

- III CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Encontros na foz do rio Amazonas, ocorreu em março de 2019, na Comunidade Ribeirinha Furo dos Chagas

(município de Afuá-Marajó/PA).

- IV CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Vida ribeirinha: Identidade, cultura e resistência, ocorreu em abril de 2019, na Comunidade Ribeirinha Furo dos Chagas (município de Afuá-Marajó/PA).

- VIII CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Identidade, Território e Resistência na Fronteira, ocorreu em julho de 2019, em Vila Vitória (município de Oiapoque/AP).

Eixo Educação Popular, Comunitária, Intercultural E Movimentos Sociais

 - V CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: A Universidade Popular dos Movimentos Sociais na Amazônia, ocorreu em maio de 2019, na Universidade do Estado do Amapá (UEAP).

- VI CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Identidade, Território e Resistência, ocorreu em junho de 2019, na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP - Campus município de Santana).

- VII CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Saúde Indígena e Bem Viver, ocorreu em junho de 2019, na ocupação indígena do prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI Amapá e Norte do Pará, município de Macapá/AP).

Eixo Mulheres Da Amazônia: Territórios E Corpos Em Resistência, Suas Histórias E

Saberes.

- IX CÍRCULO DE CULTURA CUIDANDO DA AMAZÔNIA: Mulheres dos campos, das cidades, das florestas e das águas, ocorreu em julho de 2019, na Comunidade

Quilombola de Campina Grande (município de Macapá-AP).

No mês de novembro de 2019, acolhendo na tessitura de nosso paneiro, passo a

passo, a cada maré, em cada lua cheia, em cada chuva invernosa, a cada nascer e pôr

do sol, em cada vento alísio soprando na linha equatorial, ocorreu a partilha do

caminho percorrido, respirando toda a gratidão por termos chegado até aqui.

Para emoldurar e realçar a trajetória percorrida rumo à 9ª edição do FOSPA, em

Mocoa-Colômbia, foi escolhida a realização de uma oficina de implantação da

Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS-Amapá), como primeira

experiência do gênero na Amazônia brasileira, articulando e fortalecendo a ecologia

dos saberes.

O entrelaçamento entre os Movimentos Sociais e a “Universidade” nos faz acreditar,

como caboclos amazônidas, em práticas de resistências criativas e audaciosas, de

enfrentamento ao capitalismo, ao colonialismo e ao patriarcado. Assumimos, com

uma das mãos, a cuia de açaí, e com a outra, as epistemologias do Sul. Nem mais,

nem menos.

Tornamo-nos caminho ao caminhar e nossa caminhada é de territórios – caminhos de

vida para o Bem-viver e o cuidado com a nossa casa comum. Talvez a gente não

consiga, ainda, compreender plenamente o que estamos tecendo nesta caminhada

como Fórum Social Panamazônico, pois vai muito além do que registramos em

imagens ou em narrativas. Mas já desconfiamos dos rumos que iremos percorrer,

apalpando uma pintura no desenho que a generosidade teimosa de muitas mãos e de

muitos rostos vai jogando na tela de nossas existências. Assim seja, assim cremos.