É possível um outro mundo: utilize software livre!

É possível um outro mundo:
utilize software livre!

Daniel PAJUELO VÁZQUEZ


Dizer que o mercado de software é um grande negó-cio, é algo que não necessita de justificativa. É um mercado amplo, onde cabe a justa competência, ao mesmo tempo em que é necessária uma ética forte, para não se cair em práticas de monopólio, ou lucrativas.

Normalmente, instalamos em nossos computadores um software pelo qual não pagamos; um software que algum amigo copiou para nós, ou que baixamos pela internet.

Essa prática, tão comum, se converte em pirataria e em violação das leis dos direitos autorais, cuando o software que copiamos tem direitos de propriedade. Exemplo: sistemas operacionais do Windows, pacote do Microsoft Office, programas de retoque fotográfico, tal como o Photoshop...

No caso do software que tem direitos de propriedade, seu uso, redistribuição, ou modificação, estão proibidos.

Quanto mais benefício tiramos desse software pelo qual não pagamos, e que tem direitos de propriedade, maior é o delito ou a incongruência ética. Respeitar o copyright é um dever ético e cívico, mas se converte numa injustiça quando temos de pagar exageradas quan-tias por programas imprescindíveis como o sistema ope-racional, ou sistemas de alta necessidade, como os pro-cessadores de texto. Outro inconveniente é que, se sou programador, não poderei retocar o código do programa que adquiri, pois não tenho licença para tanto. E não nos pareceria uma injustiça se, ao comprarmos um carro, nos fosse proibido pintá-lo de outra cor, ou mudar o equipamento de som...?

O aumento massivo da pirataria justifica-se, em parte, pelo alargamento da brecha digital. Cada vez se depende mais dos computadores e dos software. E cada vez são mais as pessoas que não podem se permitir o luxo de pagar as licenças dos software que utilizam.

Contudo, isso não pode ser uma justificativa para a pirataria, pois atentamos contra os princípios do merca-do que permitiram que esse software viesse à luz. Se todos pirateamos uma empresa, acabamos por prejudicá-la, a obrigá-la a aumentar seus preços, ou ir à falência e deixar de produzir esse software que nos interessa. A pirataria também prejudica o software livre (do qual falarei mais adiante), aquele pelo qual não é preciso pagar, pois enquanto pirateamos o software que tem direitos de propriedade, não necessitamos do livre, e prejudicamos seriamente a criação, o uso e o aperfeiçoa-mento dos programas de livre distribuição.

A pirataria existe há muitos anos. E é a melhor propaganda de sistemas operacionais como o MS-Dos e o Windows, ou o pacote MS-Office, sobre a qual a Microsoft fez vista grossa, sabendo que era a melhor forma de captar clientes que, cedo ou tarde, acabariam conquista-dos pelo produto e teriam de pagar por ele.

A pirataria não pode ser a resposta para a brecha digital. Devemos evitá-la na medida do possível, primei-ro em nossos computadores e em seguida em nosso trabalho, empresa, escolas, repartições públicas...

A escravidão tecnológica: práticas de monopólio

A escravidão tecnológica é a sujeição excessiva a que acabamos submetidos, ao utilizar certas marcas de computadores ou componentes, ou certo software.

A escravidão será maior, à medida que a empresa tenha menos ética, busque mais lucros e, portanto, pratique mais o monopólio: pressionando os fabricantes de hardware para que seus equipamentos utilizem os produtos que fabricam; inundando as universidades com licenças a baixo custo, para forçar uma educação basea-da em seus produtos; subornando os professores e res-ponsáveis pela implantação do software nessas mesmas universidades, nas grandes empresas e nas entidades públicas; realizando a compra massiva de pequenas empresas ou de produtos emergentes que possam signifi-car uma ameaça a sua hegemonia... Isso para não falar de delitos maiores, como o roubo de código, ou a clona-gem de outro software, maquiando-o; ou ainda intimi-dando a pequena empresa e os programadores.

Sem dar exemplos concretos de empresas que reali-zam, ou que tenham sido acusadas de realizar essas práticas escravizantes, todos podemos dizer que, de certo modo, vivemos escravizados por alguns dos progra-mas que usamos.

Um exemplo: muitos de nós utilizamos, há anos, o Wordperfect como processador de textos. E, com o passar dos anos, quase todos acabamos formulando a mesma questão: Como vou utilizar o Wordperfect, se todo mundo utiliza o Word? E mesmo pensando que o primeiro é melhor, nos vemos obrigados a mudar para o segundo, porque o mercado (ou as práticas de monopólio de certa empresa) assim nos impõe. Chegamos a crer que não havia alternativa e que o mundo dos processadores de texto se reduzia ao Word. Entretanto, a alternativa exis-te; cada vez ganha mais força e se chama Software livre. E hoje representa uma verdadeira ameaça às empresas de software que subme-tem seus clientes a seus produtos; uma verdadeira liber-tação, que pode reduzir o abismo que a brecha digital está criando.

Software livre: a ciber-sociedade altruísta

Permaneceremos atados para sempre ao software que tem direitos de propriedade, a suas imposições restriti-vas, a sua baixa qualidade e alto custo? Acaso não exis-tirá outra alternativa, nesse mundo infestado de avanços tecnológicos? E, se existe uma alternativa, é possível que ela reduza a brecha tecnológica?

Sim, é possível, e hoje essa possibilidade reside na Fundação do Software livre, da qual usufruem muitas comunidades de programadores altruístas, que de forma cooperativa compartilham suas idéias, programas, e aperfeiçoam o código de outros numa comunhão total de bens, em benefício e igualdade para todos.

“Software livre” se refere à liberdade dos usuários para executar, copiar, distribuir, estudar, alterar e apri-morar o software. De modo mais preciso, se refere a quatro liberdades dos usuários do software para: usar o programa com qualquer propósito; estudar como funcio-na o programa e adaptá-lo a suas necessidades; distri-buir cópias, de modo que possa ajudar ao próximo; apri-morar o programa e tornar públicas essas melhorias, de modo que toda a sociedade se beneficie. O acesso ao código-fonte é um requisito prévio para isso.

Sistema operacional LINUX: o centro do furacão

O que é Linux? É a ponta de um movimen-to altruísta que altera a forma pela qual se criam os programas. A busca do benefício econômico é relegada pelo desejo de contribuir com algo útil para a comunida-de.

Linux é o núcleo de um sistema operacional, ou seja, a mãe de todos os programas. É a aplicação que conduz ao resto, como faz o Windows nos PCs, ou o MacOS nos Macintosh. Mas o Linux é livre. Qualquer pessoa pode copiá-lo, presenteá-lo, distribuí-lo ou aprimorá-lo e, inclusive, vendê-lo, mas sempre às claras, para que os outros também possam copiá-lo, presenteá-lo, distribuí-lo ou aprimorá-lo. Por isso, muitos crêem que Linux é “gratuito”, quando o termo correto é “livre”. Os progra-mas comerciais são vendidos lacrados. E o usuário, afora a boa fé, não tem meios para comprovar o que realmente fará o programa, uma vez instalado. Linux, e todos os programas que foram criados de acordo com a filosofia do software livre, tem o código fonte (o interior) à vista, para que qualquer pessoa possa comprovar seus funda-mentos e, caso goste deles, utilizá-los no todo ou em parte, para elaborar outras aplicações. Dessa maneira evita-se reinventar constante-mente a roda, como ocorre com as aplicações ao uso, nas quais os programadores devem sempre começar do zero.

Por esse motivo, o Linux é um sistema operacional que cresce dia a dia, com a contribuição desinteressada de usuários do mundo inteiro, que encontraram na Inter-net o caminho perfeito para trabalhar em equipe, apesar dos milhares de quilômetros e fusos horários que os separam. Atualmente, o Linux é, segundos os experts, a única alternativa sólida contra a posição de hegemonia que o Windows da Microsoft mantém na grande maioria dos computadores pessoais.

Mas o Linux, apesar de ser a marca mais conhecida do software livre, é só o coração do sistema. A seu redor foram criados muitos outros programas, perfeitamente equiparáveis aos pagos. Alguns exemplos: Open Office, um conjunto de programas que inclui um processador de textos como o Word, página de cálculos, um criador de apresentações no estilo Powerpoint... O XMMS reproduz música como o Microsoft Media Player; o Gimp retoca fotografias como o Photoshop; o Evolution faz as vezes do Outlook.

Como passar a Linux sendo usuário do Windows

Veja as instruções para fazê-lo, acessando uma ver-são muito mais ampla deste texto no endereço indicado na margem direita. Ali você encontrará conexões reco-mendadas para completar amplamente esta informação sobre o software livre, sites onde baixar o programa...

É possível um outro mundo. Utilize software livre!

O software livre ganha mais força a cada dia. Pouco a pouco, os governos começam a implantá-lo nas adminis-trações públicas, apesar das constantes pressões da Microsoft para impedi-lo.

No Peru temos o exemplo do congresista Edgar Villa-nueva, que ante sua firme decisão de que as administra-ções públicas utilizem o software livre, se viu fortemente atacado pela Microsoft. A Argentina também parece querer endossar esse movimento. E o governo brasileiro já começa a implantá-lo seriamente...

Decididamente, o software livre avançará, com o apoio dos governos e da sociedade civil. Hoje mesmo você pode colaborar na construção de «um outro mundo possível»... apoiando o movimento do software livre.

 

Daniel PAJUELO VÁZQUEZ

smdani@marianistas.org, Madri