Educa para uma nova época

Educa para uma nova época

Ana Rojas Calderón


A época atual e os resultados do uso do Planeta, de seus recursos e a consequente desesperança humana propõem a retomada das formas mais genuínas de unir forças no ato de educar e se educar para alcançar uma qualidade de vida melhor.

Ao analisar a evolução do ser humano, sua milenar luta para sobreviver e acumular conhecimentos, assim como o desenvolvimento da inteligência, podemos apreciar na estrutura social, na biologia humana e no meio ambiente natural o delineamento de múltiplos comportamentos inatos e adquiridos, nos quais, com acertos e erros, se formou o processo conhecido como educação.

Como assinala Edgar Morin, a educação nos diferencia de outras espécies do reino animal que, em sua sobrevivência, não conseguem modificar substancialmente seus hábitos. Pelo contrário, o ser humano sabe que sabe, e com essa consciência pode melhorar suas técnicas nos hábitos de vida, construir conhecimentos e reproduzi-los avançando. Esse é o seu grande privilégio. Como diz o neurofisiólogo francês Daniel Dennet, a principal característica da consciência é ser consciente, condição humana favorável em que se pode ancorar o ato de «aprendiência», como chama Humberto Maturana a essa elaboração de conhecimento consciente, capaz de gerar mudanças, memória, reproduções e até os «memes», ou genes culturais, mencionados mais recentemente.

Daí a importância do ato pedagógico, porque sendo o ser humano maleável em favor da acumulação de experiência, o educado por pessoas mais conscientes e capazes formará seres humanos com prazer e em harmonia com a totalidade cósmica.

Precisamente, a mediação pedagógica (conexão mediador – aprendiz) com ressonância corporal, mental e espiritual facilita a bagagem adquirida da pessoa em formação, tem sua efetividade ligada à consideração da complexidade humana que nos impeliu desde épocas remotas a inventar, criar, dar sentido a esse vazio pleno de inteligência que é a vida, imbuído em sinais de linguagem e cultura, muitos dos quais reclamam uma mudança, novos valores e sentidos mais profundamente estimulantes. Aprender sem emoções nem prazer é como colocar em cada dia um decalque no corpo até cobri-lo, sem o deixar respirar nem sentir a vida. Aprender sem ser através dos sentidos e do desejo é viver à custa das representações e das noções impressas na superfície de um papel.

Em troca, o conhecimento construído com prazer é em cada fato significativo e relevante, semelhante a uma tatuagem inscrita no corpo-mente, criado e recriado ao gosto de quem aprende.

Somente assim é possível dar aos conceitos as cores desejadas, sentir a materialidade e a espiritualidade nas perguntas e nas respostas que conformam, ao longo da vida, a acumulação de conhecimentos.

George Leonard, partidário de uma educação com êxtase, assinala que a sociedade ocidental evita o êxtase pelo fato de considerá-lo uma ameaça para o controle da conduta dirigida a metas, e que sofreu, por isso, uma grande infelicidade. Da mesma forma, outras culturas extraocidentais privilegiaram o êxtase, mas deixaram de lado aspectos práticos, e também sofreram uma grande infelicidade.

Os lados obscuros do holograma

Com o salto da biologia para a cultura por trás da hominização, colorimos o holograma cósmico que nos fala David Bohm com grande diversidade de tonalidades. Mas, lamentavelmente, esse holograma multicolorido teve seus lados obscuros; como em todo holograma, essas partes tornam-se projetadas na totalidade. Lados como o de ignorar nossa biologia e a do meio ambiente, confirmando o desastre da falta de respeito e ética à primeira lei da ecologia que estabelece a relação da parte com o todo.

Podemos citar dentro de tais penumbras holográficas a influência de religiões marcando como prioridade a «alma» e sua suposta salvação; intervindo para que ignoremos o corpo como ente físico, palpitante em sincronia com outros seres vivos, visíveis por sua evolução e dinamismo. Assim vivemos uma dissociação com o ambiente e, em cada ser humano, uma dissociação galopante entre seu corpo, mente e espírito, assim como entre congêneres; afetando os valores mais compassivos e altruístas. Essa fragmentação pode também ser vista como o resultado da visão por partes do corpo e no meio ambiente, e a prevalência de enfoques e negações da essência humana, numa realidade cada vez mais anatomizada, dissecada por partes e pensada cartesianamente.

Mudanças sem culpabilidade

Nos últimos anos, a humanidade viveu o anúncio de se ter centrado em si mesma. Cientistas, como Konrad Lorenz, advertiam faz algumas décadas sobre tal inclinação, explicando o cruel defeito de crermos no centro da criação e não somente em um ramo da grande árvore da vida. Com isso desfazemos o holograma, descuidando do Planeta e dos seres vivos que o habitam, fundamentando o progresso na destruição de biossistemas e apoiados no autoengano, crendo na inocuidade de tal destruição. Contudo, não é o momento para nos culparmos pelas práticas de gerações anteriores nem pela ideologia do antropocentrismo legado, pois atualmente devemos lhe dar outro sentido: preservar a espécie humana salvando seu meio ambiente, pois são numerosos os biossistemas em perigo ou extintos dos quais depende a vida.

Quando falamos da sustentabilidade do Planeta não nos podemos limitar ao meio ambiente, à espécie dos humanos, devemos também cuidar de nossas «zonas verdes», com maior sensibilidade corporal, vivendo com mais intensidade os talentos, as habilidades, as virtudes manifestas ou latentes, alcançar a sustentabilidade do corpo e da mente e a harmonia com o ambiente por amor próprio e com o destino comum dos seres vivos. Portanto, devemos manter nossa atenção para a enorme população planetária que, como sabemos, provém dos primatas, espécie que existe a mais de 4 milhões de anos, que não era a mais dotada nem forte.

Foi na solução dos principais contratempos – o que comer, vestir, onde viver –, base da cultura, que se desenvolveu a inteligência humana, uma vez libertada a mão e com o olhar para o alto, chegando a produzir matéria mais sólida e forte que a de nosso próprio corpo, como está representada nas tecnologias.

Nesses novos desafios, meninos e meninas de hoje podem, por intermédio da mediação pedagógica, aprender a cuidar do Planeta, amar os seres vivos, não destruir nem contaminar seus ambientes, a partir de um novo planejamento do futuro, sem levarem sobre seus ombros o peso dos «pecados ambientais» cometidos pelas gerações passadas.

Desafios para enfrentar já

Quando muda a ciência, a educação também muda. «Estamos chegando ao final da ciência convencional», advertiu o cientista russo Ilya Prigogine, quer dizer, da ciência determinista, linear e homogênea, e presenciamos o surgimento de uma consciência da descontinuidade, da não linearidade, da diferença e da necessidade do diálogo.

A mudança de paradigma deve ser feita não somente com nossas percepções e modos de pensar, mas também com nossos valores. Fritjof Capra menciona a passagem urgente para valores provenientes de uma ecologia profunda (centrada no cosmos). Para nos dimensionarmos como parte do universo, com atitudes novas: abertura, interação solidária, subjetividade coletiva, equilíbrio energético, afetividade e espiritua-lidade. Para responder a práticas de auto-organização cósmica. Além disso, como saída para os problemas atuais, uma educação planetária que supere os estreitos limites da educação tradicional, mas ambidestra ao incorporar o tão esquecido lado direito do cérebro e suas virtudes.

Estamos, portanto, diante de um grande desafio quanto a como fazer do processo educativo uma inspiração holística e responsável para a preservação da espécie humana na grande árvore da vida, construindo conhecimento para viver melhor.

Assim, devemos formar gerações com ética, que contribuam voluntariamente para recuperar o meio ambiente vital destruído, com o olhar posto na sustentabilidade econômica, ambiental e pessoal equitativa, para o presente e para as novas gerações.

Uma educação flexível para maravilhar-se por cada descoberta, diante do que se vislumbra e se confirma, ante o desconhecido que deixa de sê-lo. Próxima das possibilidades da vida, da matéria e de suas dimensões para conformar os conceitos completos em vez de noções fragmentárias. E assim transitar por mundos novos, cheios de informação, criativos e satisfatórios como experiência e abrir um espaço à sensibilidade para apreciar as cores do meio ambiente, a sonoridade da natureza, os espaços vitais, as inter-relações pessoais, assim como os problemas e as possíveis soluções.

 

Ana Rojas Calderón

San José de Costa Rica