Escutar o clamor da Terra Mãe
Escutar o clamor da Terra Mãe
Para uma nova espiritualidade de convivência respeitosa
Declaração de entidades teológicas e religiosas
A comunidade signatária deste documento, convocada pela Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Terra Mãe, partindo de uma reflexão profunda sobre o papel das religiões e espiritualidades na legitimação dos sistemas que levam ao colapso o nosso Planeta, e reconhecendo ao mesmo tempo a sua força vital, expressa a profunda preocupação de todos nós sobre a Mudança Climática e os seus efeitos, que atentam contra a vida, em especial contra as pessoas mais pobres e vulneráveis em muitas partes da Terra. A Mãe Terra e toda a Criação geme e está em dores de parto e requer uma nova espiritualidade holística e ecológica para salvar a vida.
Então declaramos:
1. O clamor da Terra Mãe, suporte de todo tipo de vida, chega aos ouvidos de todas as pessoas de boa vontade. O afã de incrementar as riquezas, a comodidade de um estilo de vida de luxo, o consumismo, a exploração indiscriminada dos recursos naturais e a contaminação do ar, da água e do solo têm levado o nosso planeta Terra à beira de um colapso climático.
2. A mudança climática é o produto de uma mentalidade humana que considera a Natureza como objeto de dominação, exploração e manipulação, e o ser humano como dono e medida absoluta.
3. Reconhecemos que uma certa interpretação da tradição judeu-cristã contribuiu na história para fomentar este tipo de antropocentrismo e exploração sem misericórdia da natureza, interpretando mal a responsabilidade do ser “cuidante” e advogado da Criação. Cada sitema religioso deve fazer uma revisão crítica do seu papel diante da mudança crimática.
4. Convocamos, junto aos povos originários e às suas culturas, para uma conversão profunda do paradigma imperante, das estruturas opressoras, assim como das mentalidades, atitudes e modos de vida, para que encaminhem as nossas vidas em sintonia com a natureza, o cosmos e o grande mistério da vida.
5. Acreditamos que as religiões e espiritualidades dos povos, em diálogo entre si, podem guiar-nos na busca de uma vida em harmonia com o Meio Ambiente, em direção às futuras gerações e à vida do cosmos; por isto convocamos todos os líderes eclesiásticos e espirituais para se esforçarem para aprofundar uma ampla campanha de conscientização e conversão de todos os crentes, para que contribuam na salvaguarda da vida no nosso planeta Terra. Ao mesmo tempo os convocamos para influenciar nos seus governos e nos espaços multilaterais, como as Nações Unidas, para que os países se comprometam em assumir maior responsabilidade no cuidado da terra.
6. Exigimos dos responsáveis políticos, econômicos e científicos, a urgente tomada de medidas para responder eficazmente aos efeitos da Mudança Climática e assegurar as bases de uma vida abundante para todas e todos, em especial para os mais pobres e as futuras gerações. Confiamos que a cúpula das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, COP 16, que teve lugar em dezembro de 2010 no México, tenha sido um acontecimento transcedental para o futuro da humanidade.
7. Comprometemo-nos em implementar nas nossas organizações, instituições religiosas e na vida pessoal uma espiritualidade ecocêntrica e realizar trabalhos de conscientização para a mudança de mentalidade e prática consumista.
Aderindo-nos ao «Acordo dos Povos», invocamos o Espírito vivificante para que nos guie e fortaleça no nosso compromisso com as futuras gerações, com a Terra Mãe e com toda a Criação.
Cochabamba, 22 de abril de 2010,
Dia da Terra Mãe.
Assinam: O Instituto Superior Ecumênico Andino de Teologia, ISEAT / Teólogos/as do Terceiro Mundo, EATWOT / Conselho Mundial das Igrejas, CMI / CRIMPO / Semilla / Igreja Evangélica Metodista da Bolívia /Igreja Evangélica Luterana Boliviana / Servas de S. José / CLAI-Região andina / Rede de mulheres-missão 21 / Religiosas Jesus-Maria / Cepas-Cáritas /Missami / CENM / FMM / PPE / Centro Misssionário Maryknoll / Meipi.
Declaração de entidades teológicas e religiosas
Cochabamba, Bolívia