ESPERANÇA NA OBSCURIDADE

 

Rebeca Solnit

Esperança na Obscuridade é o título do livro em que Rebecca Solnit, sua autora, refl ete sobre as grandes lutas do ativismo do século passado e repassa os acontecimentos históricos relevantes, desastres naturais, catástrofes e atentados que têm afetado diferentes zonas e comunidades do planeta, sabendo-se que as crises fazem surgir o melhor das pessoas.
O relato foi concebido à raiz de um artigo publicado após os EEUU declararem guerra ao Iraque. A escritora e historiadora estadunidense analisou a reação individual e coletiva que se produziu no mundo naquelas circunstâncias, contra o confl ito armado, que foi um clamor generalizado de milhares de pessoas, unidas por um
objetivo comum.
Esperança na Obscuridade é um guia para transformar o mundo, sem render-se nunca, e tem um objetivo duplo. Por um lado, animar os ativistas, para que compartilhem seus sonhos e valores. “O ativismo não é um ir e voltar de uma loja da esquina, é um mergulho no desconhecido. O futuro sempre é obscuro”. Em segundo lugar, este ensaio pretende desassociar-se do esquema mental derrotista e de desprezo estendido em todas as partes. Nesse
sentido, Solnit enfatiza a alegria, que é necessária para fazer frente a pequenas e grandes causas para conseguir um mundo mais justo. “A alegria não trai o ativismo, ao contrário, o alimenta. E, quanto te enfrentas a uma política que aspira fazer-te sentir-se temeroso, enojado e isolado, a alegria é uma boa maneira de começar a insurreição”.
Solnit argumenta de que forma todas as transformações compartilham algumas características: iniciam-se com a imaginação, a criação e a esperança. “A esperança é uma aposta para o futuro (...) porque viver é arriscar-se”. “A esperança é arriscada, porque, ao fi m e ao cabo, é uma força de confi ança. Confi ança no que desconhecemos e no que é possível, inclusive, na descontinuidade.” Aliás, ressalta que todas as mudanças têm umas raízes profundas, que podem estar distantes no tempo, mas que, quando se dão as condições favoráveis, surgem aparentemente do nada e explodem em forma de revolução ou pequenos triunfos, que nos empurram
a continuar. “Às vezes, me pergunto o que aconteceria, se a vitória fosse imaginada, não apenas como a eliminação do mal, mas como o estabelecimento do bem.”
Nesse ponto, vale a pena aprofundar o conceito de lucro, tal e como ela mesma o questiona: “o conceito de benefício clama por uma redefi nição, pois o mercado de ações defi ne todas as formas de destruição como benéfi
cas e não leva em conta a valorização das culturas, as diversidades e o bem-estar a longo prazo (sem falar da felicidade, da beleza, da liberdade ou da justiça).”
Quando Solnit faz referência a pequenas vitórias, parte da base de que a Terra não é o paraíso, que o mundo está cheio de imperfeições, geradoras de sofrimento, e que não podemos chegar à excelência absoluta. “A perfeição é uma vara que serve para destruir o possível. Os perfeccionistas encontram difi culdades em tudo e ninguém tem exigências mais altas nesse sentido, do que as pessoas de esquerda. (...) Eles são antipáticos, como os perfeccionistas, que veem uma derrota em qualquer coisa que não seja uma vitória total.”
Assim, nos desafi a a caminhar até a utopia, a desenvolver o sentido político, a comprometer-nos e a transformar-nos individual e coletivamente, com pequenos gestos, em nossa cotidianidade. “Todos somos ativistas de alguma forma ou outra, porque nossas ações (e não- ações) têm impacto.” “O propósito do ativismo e da arte é construir um mundo em que as pessoas sejam produtoras de signifi cado, não consumidoras.”
Com a leitura desse livro, temos a oportunidade de sentir-nos chamados a interagir com as pessoas do nosso entorno imediato (família, amizades, trabalho, bairro...) com confi ança, calma, generosidade, força, improvisação, amabilidade, sentido de comunidade, cooperação e alegria. Esses são os ingredientes da receita de Rebecca Solnit para dar luz à obscuridade.