GRANDES CAUSAS

 

Pedro Casaldáliga

Somos as Causas que assumimos, as que vivemos, pelas que lutamos, e pelas que estamos dispostos a morrer. Eu sou eu e minhas causas. Minha vida valerá o que minhas Causas valem. Quatro são as grandes Causas da Pátria Grande:
1. As culturas raiz e testemunho: perseguidas e até proibidas; marginalizadas e até massacradas. A cultura indígena, a cultura negra, a cultura mestiça, a cultura migrante. Cada uma delas com sua especifi cidade; mais ou
menos confl itiva, segundo os tempos e as latitudes.
2. O popular alternativo, o socialismo latino-americano, a democracia integral, a civilização da pobreza compartilhada, mas militante, a luta pelos direitos humanos e pelas transformações sociais, juntamente com a gratuidade e a festa. O popular e, por ser popular, “alternativo”, diferente do que nos é dado, contrário ao que se impõe, criativo, frente ao fatalismo rotineiro, é o programa mais realista e o desafi o histórico mais efi caz para os Povos latino-americanos; para seus líderes e políticos, para seus partidos e sindicatos, para as Igrejas, que
querem ser latinoamericanamente cristãs e para esse novo sujeito emergente coletivo, que é o Movimento Popular.
3. A Mulher. Ela, nem menos, nem mais. Secularmente marginalizada, em quase todas as culturas; também, como não, nesta machista América Latina que, por si só, é mais Mátria do que Pátria Grande, Abia Yala, terra virgem, mãe
em constante fecundidade. As mulheres, todas as mulheres, também as negras, também as indígenas, também as pobres e as subjugadas, estão se colocando em pé, de consciência coletiva e organizada, e são, com muita frequência, suporte e maioria nas diferentes esferas do Movimento Popular.
4. A ecologia integral. A comunhão harmoniosa com a Natureza, mãe e esposa, habitat e veículo. Uma ecologia contemplativa, ao mesmo tempo que funcional. Herança ancestral dos Povos indígenas, que tão bem têm sabido
amar e respeitar a Natureza. A América Latina pode e deve dar ao mundo esta lição atualíssima da ecologia integral. Nem queremos a Terra como um museu intocável, nem aceitamos a técnica, a indústria, o mercado como lei e futuro onipotentes. O primeiro elemento essencial para nossa ecologia é o próprio ser humano, a espécie viva mais ameaçada de extinção.