JUNTAR-NOS PARA DESENREDAR-NOS
Diego Pereira Ríos
O mundo digital está se tornando cada vez mais complexo e preocupante, não apenas por causa de seu alcance em todos os aspectos da vida humana, mas também por causa do domínio que está desenvolvendo sobre a consciência. Desde antes da pandemia da Covid-19, os vários sistemas de computadores criaram uma diversidade de plataformas com ferramentas que se expandiram durante o período de quarentena. Sem negar sua dimensão positiva, pois possibilitou que continuássemos nossas vidas mantendo nossos contatos humanos, seja no trabalho ou pessoalmente, as consequências negativas ainda são preocupantes em vários níveis.
Mídia social e redes sociais: diferenças
Essa pergunta pode dar origem a uma infinidade de respostas que, muitas vezes, são matizadas nos mesmos sites da Internet. Com relação à mídia social e às redes sociais, podemos encontrar que "são tecnologias para uso interativo", "facilitam o diálogo entre as pessoas", "são meios de acesso à informação", "são meios de comunicação e interação", entre muitas outras. Nesse sentido, encontraremos muitos defensores do mundo digital, pois eles são vistos ou apresentados apenas a partir do pressuposto positivo de seus benefícios. Insisto que não podemos negar alguns deles, sabendo que hoje eles nos permitem nos comunicar com pessoas de todo o mundo, participar de eventos aos quais jamais teríamos acesso se não fossem as ferramentas digitais, ser informados quase que instantaneamente sobre os acontecimentos ao redor do mundo e acompanhar amigos e familiares em situações complexas. As tecnologias nos ajudam, sim, elas nos aproximam e nos ajudam a entrar em contato com o que está acontecendo em outros lugares. Mas, sem dúvida, o que mais vemos são suas consequências negativas.
As mídias sociais pretendem ser um "lugar" onde muitas pessoas se encontram e onde compartilham interesses, gostos, informações, materiais, produções acadêmicas e ferramentas que facilitam tanto o estudo quanto o trabalho. Quem de nós já não usou o Facebook, Linkedin, WordPress, Blogger, Youtube, Slideshare, Canva? Conhecendo a ampla gama de programas que nos oferecem um espaço para melhorar nossas apresentações, em que facilitam a apresentação de um produto, seja ele qual for, seríamos tolos se não tentássemos usá-los. Há aqueles que são gratuitos ou de acesso aberto, bem como aqueles que cobram uma taxa pelo acesso de melhor qualidade. De certa forma, as mídias sociais substituem o que costumávamos chamar de mídia tradicional, como jornais, revistas de transmissão ou de pesquisa e também a TV.
As redes sociais, por outro lado, são diferentes das primeiras, pois se referem ao grupo de pessoas que se unem por meio das ferramentas digitais criadas, nas quais se formam certos laços, sejam afetivos ou de interesses comuns, mas que muitas vezes nos fazem interagir com pessoas de diferentes lugares. Enquanto as primeiras são mídias sociais por meio das quais as pessoas interagem, as redes sociais envolvem a criação de comunidades digitais que vão além de um vínculo prático ou utilitário. Nas redes sociais, há uma comunicação bidirecional, há um vai e vem de mensagens e informações que criam certa relação entre os interlocutores. Enquanto na mídia social o relacionamento é mais impessoal, as redes sociais facilitam a comunicação direta, possibilitando que ela seja mais rica, mais pessoal e, de alguma forma, que haja uma certa subjetividade compartilhada. E por subjetividade quero dizer que as redes sociais compartilham experiências de vida, situações de pessoas que estão unidas em algo comum. Digamos que a mídia social conforma a tecnologia subjacente, por meio de conexões humanas, onde as redes sociais encontram um lugar para publicar e trocar informações.
Por que somos tão seduzidos pela mídia social e pelas redes sociais?
Embora já existissem mesmo antes da pandemia, durante esse período em particular, essas ferramentas possibilitaram combater o isolamento da quarentena. A solidão, o aborrecimento e os problemas de socialização das nossas sociedades foram a verdadeira plataforma de trabalho com a qual os criadores dessas ferramentas brincaram. Até mesmo a educação foi ajudada por todas essas possibilidades oferecidas pela digitalização da mídia para avançar. Várias plataformas, como Moodle, Schoology, Zoom, Google Meet, entre outras, possibilitaram a continuidade dos cursos acadêmicos. Não podemos nos esquecer de que o acesso a essas plataformas não era igual para todos, pois nem todos tinham os dispositivos tecnológicos e o acesso à Internet necessária. Como sempre, as classes mais pobres foram prejudicadas. Mas há uma realidade: a tecnologia desenvolvida durante esse período não parou de produzir ferramentas cada vez mais diversificadas que continuam a nos manter prisioneiros das telas digitais.
E essa é muitas vezes a atração que elas provocam a razão pela qual nos seduzem, especialmente os mais jovens em nossas sociedades pós-moderna. Diante das dificuldades que surgem na sociedade para nos relacionarmos uns com os outros, diante do avanço da violência generalizada como resultado da falta de habilidades que favoreçam a socialização, diante do tempo que crianças, adolescentes e jovens ficam sozinhos em casa devido ao número de horas de trabalho dos pais, as redes sociais nos são apresentadas como a melhor solução. Assim, o surgimento do Whatsapp, Tik Tok, Twitter, Instagram, Facebook, Youtube, gerou uma espécie de vício social sem o qual as pessoas não podem viver. Por um lado, eles possibilitam que as pessoas estejam em casa sem a necessidade de sair e se expor na rua, e que estejam "conectadas". Ouvindo os jovens, eles mesmos dizem positivamente que isso os tira da solidão e que, sem eles, estariam em uma situação pior. Por meio delas, eles conhecem pessoas de outros lugares com quem trocam preferências e gostos, com quem conversam sobre coisas que não conseguem falar com suas famílias, ou melhor, funciona como um "placebo" mental que os tira de seus problemas diários.
O problema real a resolver e discernir
É um fato real que nossas sociedades sofrem de vários sintomas que facilitam a sedução do digital: o isolamento físico e mental, a despersonalização das relações humanas, o vínculo com aqueles que pensam de forma semelhante, a solidão e a falta de sentido, a falta de referências positivas, a falta de lideranças que nos impulsionam a mudar situações difíceis, a falta de ferramentas psicológicas que se oponham às mensagens da cultura da morte, a mentalidade consumista e descartável etc. Junto com isso, a educação deficiente que ainda não nos forma para o pensamento crítico, a falta de instâncias de práticas democráticas, a falta de espaços para discussões com o único objetivo de encontrar a verdade como um bem comum, o exercício do discernimento comunitário, a falta de apoio às famílias diante dos problemas de seus filhos etc.
O discernimento e as ações para reverter essa situação devem começar com a geração de uma cultura de encontro, onde as pessoas possam entrar em contato umas com as outras, onde os rostos sejam vistos sem intermediários, onde as vozes sejam ouvidas com respeito e onde todos tenham um lugar. Em tudo isso, precisamos realizar ações criativas e eficazes, gerando encontros que seduzam com a busca de uma fraternidade universal que nos faça sentir parte de um todo comum, que não está completo sem cada parte integrante. Acreditamos que é essencial ouvir as demandas, situações e propostas que todos nós temos, pois somos os protagonistas deste momento da história. Precisamos nos unir para nos fortalecer.