MILITARISMO OU DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Pere Ortega
O gasto militar mundial, em 2021, pela primeira vez, superou os 2 trilhões de dólares (2.113 trilhões). Uma cifra colossal, que representa 2,2% do PIB mundial, que contrasta com a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD) dos países da OCDE que, nesse mesmo ano, tem sido de 179 bilhões de dólares, que alcança apenas 0,19% do PIB mundial. Uma comparação da qual se extrai a seguinte consideração: que a maior parte desse gasto militar serve somente a 25 países e equivale a 81,5% (1.722 bilhão de dólares) do total desse gasto; enquanto que o resto dos 169 países do mundo têm um gasto militar infinitamente inferior, 18,5% (391 milhões de dólares) – veja a tabela.
Dessa constatação, pode-se afirmar que os países enriquecidos preferem destinar recursos, para buscar sua segurança, armando-se, ao invés de andar no sentido contrário, buscando a segurança da humanidade, colocando seus recursos para cumprir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Objetivos que pretendem que, em 2030, haja erradicado a pobreza, proteger o planeta diante da crise ecológica e a mudança climática, e conseguir justiça social e paz para todos os habitantes do planeta.
Uma constatação, para somar-se a outra perversidade: que esses mesmos 25 países ostentam 98% das exportações de armas do mundo (veja a tabela). Portanto, são responsáveis por alimentar alguns dos 34 conflitos armados que existem atualmente no mundo. 25 países que, apesar de serem os mais ricos do mundo, em seu interior, também têm um sul global (especialmente China e Índia), quer dizer, uma população empobrecida e com graves deficiências estruturais, que lhes impede de viver uma vida com as necessidades básicas cobertas, como a saúde, educação, moradia, trabalho e meio ambiente sadio.
Mas, por detrás desses 25 Estados, existe uma terceira perversidade: uma mão invisível, que tem imenso poder, porque é quem realmente governa a economia mundial e, por sua vez, é responsável pelas enormes desigualdades sociais e pela crise ambiental, que está perturbando a vida do planeta, através das várias crises que afetam os ecossistemas: retrocesso das terras férteis, da água doce, da biodiversidade, das espécies marinhas, da contaminação da atmosfera, do esgotamento das energias e minerais fósseis, que afetam centenas de milhões de pessoas que, em muitos casos, veem-se obrigadas a emigrar para poder subsistir. Algumas corporações, que controlam a maior parte da economia mundial, através de sua expansão por todo o planeta, subjugam a maior parte da população mundial. Observemos na tabela como as 50 corporações mais poderosas do mundo controlam 63.000 transnacionais, que têm sua sede nos 10 países mais ricos do mundo.
Algumas corporações que acumulam grande poder, entre as que se encontram as 3 maiores: BlakRock, Vanguard e State Street. 50 corporações que são as principais responsáveis pelas desigualdades sociais e pela crise ecológica, que ameaça a sobrevivência humana no planeta. Uma crise ambiental, que é produto do desejo depredador, para apoderar-se dos recursos não renováveis da crosta terrestre: petróleo, gás, níquel, cobre, urânio, coltan, silício, lítio e tantos outros imprescindíveis, para seu modelo de desenvolvimento insustentável e que são motivos de muitos conflitos e ocasiões de guerras. Porque, quando se produzem resistências entre as populações ou países afetados pela ânsia extrativista, os Estados, que protegem a essas corporações, não duvidam em utilizar a força militar para dobrar essas resistências. Apenas vejam as guerras do Sudão do Sul, Congo, Nigéria, Iraque, Líbia, o assassinato de tantos defensores e defensoras de seus habitats na América Latina, África Subsaariana e Ásia.
Conclui-se de que necessitamos de menos gastos militares, portanto, que se deve reduzir o número de militares e de armamento. E, pelo contrário, deve-se aumentar o número de médicos, hospitais, educadores, escolas, assistentes sociais e desenvolver mais energia verde, para se fazer possíveis os ODS que, em seu objetivo 16, propõem conseguir a paz, a justiça social e instituições mais sólidas, que garantem uma vida digna de ser vivida por todos os habitantes do planeta.
Gasto militar Mundial / Comercio de Armas / Grandes Corporações (em milhões de euros constantes 2020)
País | Gasto militar | Exportadores de Armas2 | Grandes corporações3 |
Estados Unidos |
767,780 |
10,613 | 24 |
China | 270.017 | 1.085 | 1 |
India | 73.575 | 33 | |
Rusia | 63.485 | 2.744 | |
Reino Unido | 62.489 | 601 | 8 |
França | 53.560 | 3.954 | 5 |
Alemanha | 52.488 | 914 | 2 |
Japão | 55.774 | 4 | |
Arabia Saudita | 53.759 | ||
Coreia do Sul | 47.676 | 566 | |
Itália | 30.265 | 1.717 | 1 |
Australia | 28.398 | 173 | |
Emirados Árabes Unidos | 24.564 | 48 | |
Canadá | 24.001 | 119 | 1I |
Israel | 22.501 | 606 | |
Espanha | 18.408 | 612 | |
Turquía | 16.709 | 380 | |
Holanda | 13.015 | 299 | 2 |
Grécia | 7.744 | ||
Noruega | 7.329 | 58 | |
Suécia | 7.176 | 332 | |
Bélgica | 5.943 | 48 | |
Suíça | 5.564 | 147 | 2 |
Dinamarca | 5.113 | 27 | |
Portugal | 4.675 | 11 | |
Total | 1.722.008 | 25.087 | 50 |
Total Mundial | 2.113.000 | 25.638 |