Monsenhor Casaldáliga, Pedro Liberdade

 

Roberto E. Zwetsch

Pedro, pastor, poeta, profeta,

Pedro irmão, amigo, defensor

De gente humilde, esquecida,

Como abandonado era o sertão onde foi morar

Viver,

Evangelizar.

E, então, ser bispo, articulador,

Semente de resistência.

São Félix do Araguaia nunca mais foi a mesma

Depois que ele chegou!

Pregou a união dos diferentes,

A comunhão dos pequenos, a partilha do pouco,

A vivência da fé na coragem de ser,

A alegria da festa comunitária, a criançada

A correr feliz na beira do grande rio

Que ele conheceu como poucos em suas muitas

Travessias, atento às margens, aos pássaros,

Às tartarugas e aos peixes voadores.

Nunca se furtou à conversa com os canoeiros,

Os peões de fazenda, as moças das vilas,

Os jovens das escolas,

As avós famintas, os lavradores sem terra

Que produziam feijão, macaxeira, banana,

As frutas do quintal.

Essa gente amiga que sempre o abrigou

Nas casas de palha, de barro batido,

Onde havia rede e um café passado na hora.

Por isso mesmo, casa fraterna e mesa repartida.

Pedro teve por báculo o remo tapirapé,

Como anel, o tucum dos povos indígenas,

Por mitra, o chapéu de palha

E por calçado a sandália de borracha.

Escândalo episcopal, profecia encarnada no corpo,

Na mente e no espírito inquieto da

Insurreição do evangelho.

Viveu a colegialidade do ministério com

O clero, as religiosas e o povo das comunidades

Sempre à escuta da sabedoria popular.

Na senda aberta pelo Senhor dos Passos,

O Cristo Jesus de Nazaré e de todos os povos.

Em comunhão com Pedro, seguiremos seu caminho

Na unidade do Espírito da Liberdade.

O Deus de toda paz o cubra de bênção, de amor

De misericórdia e de compaixão.

A alegria do evangelho vencerá,

Ah, vencerá mesmo, Pedro,

Ainda que a maldade pareça infinita.

Vem, Senhor Jesus!

No fim, permanecem a fé, a esperança e o amor.

Mas o maior é e sempre será o Amor!