Mulheres organizadas, transformam a realidade

 

Jupic Vivat

Red inter-distrital de organizações de mulheres (reidom)

Em 2010, representantes das organizações de mulheres se preocuparam em unir forças e formar uma rede que respondesse às
necessidades comuns das mulheres. Dessa forma, líderes e/ou representantes das diferentes organizações dos Distritos dos
bairros periurbanos de Cochabamba, decidiram começar a realizar este sonho.
Depois de participar do “1º Encontro de Participação Cidadã para uma Melhor Qualidade de Vida”, observam que as necessidades e problemas são comuns nesses Distritos e identificam, de maneira conjunta, as possíveis soluções à falta de abastecimento de água, poluição ambiental, insegurança cidadã, discriminação contra
mulheres em espaços de incidência e falta de acesso a serviços básicos.
A partir dos compromissos assumidos  neste primeiro encontro, surgiu a iniciativa de realizar-se outro, com o objetivo de dar visibilidade e apresentar propostas às necessidades prioritárias de Distritos do Município de Cochabamba, tais como o abastecimento de água e a contaminação do meio ambiente. Como una primeira intervenção na sociedade, participaram da “1ª Feira- Concurso do Direito à Cidade” organizada pela Fundação Pró-Habitat – Cochabamba, obtendo o 1º Lugar com sua proposta “Cuidado do meio ambiente e água para todos”. Como afi rmou a senhora Marisol, representante de uma das organizações, “É a primeira vez que saímos e
ganhamos, estamos muito felizes”.
Posteriormente, com o objetivo de se consolidar como rede, decidiram fundar a Rede Interdistrital de Organizações de Mulheres (REIDOM), formando sua diretoria entre as líderes das organizações pertencentes aos
bairros periurbanos de Cochabamba; desta maneira, dando continuidade a este novo projeto, que tem como objetivo principal  impulsionar ações e atividades em benefício das organizações de mulheres, famílias e
bairros a que pertenciam.
Permanentemente, as líderes se socializam e identifi cam necessidades e propõem possíveis alternativas de solução. Além de gerar espaços de formação e capacitação; a promoção de organizações de mulheres e o posicionamento de suas vozes, através dos meios de comunicação, perante a sociedade civil. Assim, as mulheres são protagonistas da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Como afi rma a senhora Brenda Moreno, da organização de mulheres Liberdade (Libertad): “nasceu para atender às necessidades de todos
os grupos ou clubes de mães”.
A REIDOM buscou espaços, onde se tornassem visíveis e se divulgasse, através de diferentes rádios (Rádio Pio XII, Rádio C.E.P.J.A.), diferentes escritos (Jornal “Los Tiempos” e “La Voz”) e televisivos (RTL – Canal 57), como expressa a Senhora Rosmery Tola, líder da organização de mulheres “Victoria”. A rede, desde sua fundação, vem trabalhando no empoderamento de diferentes temas transversais como: fortalecimento organizacional, violência intrafamiliar, igualdade de gênero, liderança e promoção  dos direitos das mulheres, meio ambiente e
segurança alimentar. Segundo o testemunho da senhora Rosalba “As mulheres organizadas podem progredir, as oficinas servem para que percamos o medo e que nos possam ouvir…”.
As Feiras expo-educativas de promoção dos  direitos da mulher e as trocas de experiências, são algumas das principais atividades que a rede promove. Estas atividades permitem visibilizarse nos espaços públicos e interagir com as instituições da sociedade civil; conquistando o reconhecimento social e a tomada de decisões pelas mulheres, como aponta a senhora Brenda Moreno “…nos deram valor para trabalhar, participar da Organização Territorial de Base (O.T.B.); aprendemos nossos direitos, nos fizeram capazes de dar a nossa opinião, de tomar a palavra nas reuniões, ocupar cargos nas OTBs, que podemos trabalhar juntos, já não somos mulheres submissas, trancadas em casa; percebemos que nossa participação é importante”

Atualmente, a rede é apoiada pela equipe de JUPIC VIVAT da Congregação das Servas do Espírito Santo - Bolívia, que acompanha integralmente os grupos organizados de mulheres. Um de seus desafios, em processo, é tornar-se uma microempresa, através dos empreendimentos produtivos e econômicos, para melhorar a qualidade de vida das mulheres e suas famílias; para isso, as organizações da rede iniciaram a elaboração e comercialização de pão caseiro, confeitaria e tecelagem, como a senhora Rogelia Mamani evidencia “não sabíamos fazer pão, agora aprendemos e vendemos no nosso bairro ou entre nós… estamos animadas e queremos nos aperfeiçoar na confeitaria, para poder abrir nossos negócios e administrar nosso investimento.”
Outro desafio que a REIDOM tem é conseguir o Estatuto Jurídico de suas organizações, para posteriormente se consolidar legalmente como uma rede, o que permitiria melhores relações com o meio, fazer alianças estratégicas com outras redes e/ou plataformas e melhorar o direito de intervenção das mulheres no desenvolvimento regional.
Nesse sentido, o valor que as mulheres das organizações atribuem à rede, é que ela lhes permitiu valorizar-se como mulheres, assim destaca a senhora Martha Núñez “…aumenta a nossa autoestima, nos prepara e nos anima
a perder a timidez e não poder falar diante do público ou nos defender perante a sociedade, e nossa própria família nos dá esse ânimo, aumenta a nossa autoestima e nos fortalece…”.
Sem voz e sem visibilidade, as pessoas em processo de exclusão se encontram em uma posição de irrelevância estrutural como pessoas. Podem ser importantes para a opinião pública como problema social, inclusive como
preocupação pelas pessoas mais frágeis, mas de uma posição subalterna, precária e de irrelevância. Por isso, o destaque que o Papa Francisco quer dar aos movimentos populares, como dinâmicas que dão voz, protagonismo
e poder de agência às classes populares. Os movimentos populares, na boca do Papa, são “poetas do social”, porque seguraram o poder da palavra que habitualmente lhes foram tirados.