Nós mulheres já temos nome. Mulheres históricas na luta feminista

Nós mulheres já temos nome
mulheres históricas na luta feminista
 

María Pau Trayner Vilanova


Ao começar a escrever estas poucas linhas sobre mulheres de destaques da história, percebi que o sistema patriarcal começa a ter rachaduras. Um sistema criado para tornar a mulher totalmente invisível, não conseguiu o seu objetivo. Um rápido olhar sobre a história conhecida e a atualidade, nos demonstra que estamos em uma recriação da sociedade e, ao mesmo tempo, uma valorização do feito feminino que, sem pressa, porém sem pausa, foi superando a marginalização organizada da mulher.

Na narrativa, levar em conta mulheres concretas para nos ajudar a descobrir esta realidade de força criadora e transformadora, ainda me torna mais difícil e, pensei que só sou capaz de fazê-lo recordando aquelas que, apesar de sua situação social, econômica, política ou religiosa, nos ajudam a compreender nossa sociedade atual, herdada das ações de outras antecessoras que, graças à sua força, liberdade e decisão, nos transmitiram alguns valores, que como tochas fizeram chegar a sua luz até nós com exemplos e fortalezas, e por isto, com real perspectiva de gênero, podemos reconhecê-las e admirá-las como o merecem. Nomeemo-las:

1) As que dedicaram sua vida aos trabalhos agrícolas. Sedentárias.

2) As nômades. Matriarcas como Sara, Agar, Rebeca e Raquel.

3) Belas e sábias com poder: Cleópatra, Hypatia.

4) As seguidoras de Jesus, apoiando e demonstrando a sensibilidade de uma espiritualidade de ressurreição: Madalena, Fede.

5) As indígenas que são exemplos de fidelidade e resistência, foram através dos filhos, o principal veículo da mestiçagem.

Há que recuperar também algumas das que ocuparam postos de destaque na conquista da América.

a) As mulheres de destaque na América Latina e na Europa, que a partir da Independência da América do Norte e da Revolução Francesa do século XVIII, transformaram a sociedade para a Época Contemporânea.

b) Século XIX: as que, contra leis e costumes, tiveram acesso aos estudos reservados aos homens.

c) As que foram eleitas para governar uma nação, demonstrando uma parte da insensatez do patriarcado.

d) As reconhecidas seguidoras de Jesus, enaltecidas como Santas pela Igreja.

Chegar a concretizar toda a riqueza, que representa a parte feminina da sociedade, ao longo da história é impossível, porque fica enviesada pelas mesmas estratégias do patriarcado que nos silenciou às mulheres. Ofereço aqui apenas alguns nomes e uma brevíssima pincelada de sua interessante vida. Pode e deve ser ampliada e aprofundada na rede.

Da Mesopotâmia ao Mediterrâneo, Molsosa, Tanit, Artemis e Anat. A maternidade e o mistério que a envolve fizeram surgir as Primeiras Deusas, que protegiam a mulher em sua realidade criadora. Revolução com excedente produtivo foram os pomares, que surgiram do trabalho diário das mulheres. A deusa da festa das colheitas foi Carme. Deméter é sua divindade protetora da fertilidade dos campos.

As Matriarcas citadas na Bíblia, nômades, tornam possível a criação e organização do povo judeu com Sara, Rebeca e Raquel, e Agar a escrava que deu o primogênito ao Patriarca Abraão, Ismael, considerada a iniciadora do povo ismaelita ou árabe.

Cleópatra VII, nasceu no ano 69 a.C., última rainha do Antigo Império Egípcio. De grande cultura, falava egípcio, grego, hebreu, sírio, aramaico e latim. De grande habilidade política se suicidou por causa das pressões daqueles que queriam governar o império.

Hypatia é a primeira mulher matemática da qual se tem conhecimento. Escreveu sobre geometria, álgebra e astronomia e inventou um densímetro. Foi assassinada, linchada por uma multidão de cristãos. Muitos historiadores consideram provada ou muito provável a implicação de Cirilo em sua morte, se bem que o debate a respeito continua aberto.

No Novo Testamento citamos Maria Madalena presente em todos os Evangelhos (Mt 28,1-10; Mc 16,1-9; Lc 24,9-12; Jo 20,11-18). Também nos primeiros anos do Cristianismo, Paulo nomeia Febe em sua carta aos romanos (Rm 16,1) reconhecendo-a diaconisa da Igreja de Céncrees.

No século XVI: Malinche ou Dona Marina (15021529), filha do cacique dos Painala, dada como escrava a Hernán Cortês, em 1519, pelo cacique Tabscoob. Foi a intérprete oficial. Também as que na mesma época realizaram atividades colonizadoras.

Isabel Barreto de Castro (1567-1612), viajante e navegante espanhola, esposa de Álvaro de Mendaña, almirante da armada de Felipe II, e a também almirante Mencia Calderon, mulher de Juan de Sanabria, quem, depois da morte de seu marido se encarregou da expedição ao Rio da Prata, considerada como “a mãe espanhola da área do Rio da Prata”.

No século XVII cabe destacar a figura da escritora Sóror Juana Inês da Cruz, nascida já nas novas terras de San Miguel Nepantla (1651-1695), que adquire especial destaque na nova hispana literatura. Por sua crítica aos monsenhores portugueses, a Inquisição a condenou a não poder ler outros livros que os de oração. Poetisa, literata e feminista, fiel à sua fé e entrega a Deus. Morreu em 1695.

No século XVIII, Olympe de Gouges (1748-1793), pseudônimo de Marie Gouze, francesa. Escritora, dramaturga, e filósofa política, autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Morreu na guilhotina.

Madame Roland, destacada partidária da Revolução francesa e influente membro do grupo girondino. Morreu na guilhotina durante o Terror.

Théroigne de Méricourt, nascida Anne Josèphe Terwagne. Política e feminista de origem Valón que teve importante papel na Revolução francesa. Militou contra o desemprego ou o monopólio de riquezas, que a levam a fundar com Pauline Léon, a Sociedade das republicanas revolucionárias, em maio de 1793.

Etta Palm, fundou a Sociedade Patriótica e de Beneficência das Amigas da Verdade, primeiro clube, composto somente por mulheres, para reivindicar a igualdade entre sexos junto a Reine Audu, Marie Charpentier.

Mary Wollstonecraft foi uma filósofa e escritora inglesa (1759-1797). Considerada uma das grandes figuras do mundo moderno, escreveu romances, contos, ensaios, tratados, um conto de viagem e um livro de literatura infantil.

No século XIX, as que superando as proibições se integraram no mundo científico, como:

Mme. Curie, nascida na Polônia (1867-1934) e as que preocupadas pela promoção da mulher, souberam lhes oferecer escolas e a possibilidade de estudar.

Concepción Arenal (1820-1893), de origem galega foi uma das primeiras mulheres com estudos universitários. Visitadora de presos nos anos 1863-1864, trabalhou sobre o direito internacional e penal.

Teresa Claramunt (1862-1931), de Sabadell, considerada a primeira revolucionária espanhola do século XIX, anarco-sindicalista.

No século XX, as que na América Latina foram eleitas para governar países: Violeta Chamorro, presidente da Nicarágua 1990-1997. Dilma Rousseff, no Brasil, 2011-2016, Michelle Bachelet, presidente do Chile 2006-2010. Cristina Fernández de Kirchner, presidente da Argentina 2007-2015. É interessante constatar a porcentagem de mulheres em Câmara baixa...

PRÊMIOS NOBEL:

De 49 Prêmios Nobel concedidos a mulheres, 16 são prêmios pela Paz, 14 por Literatura, 12 por Fisiologia ou Medicina, 3 de Química, 2 de Física e 1 de Economia. A lista dos nomes e maiores informações podem ser vistas em Wikipedia.

ARTISTAS:

Frida Kahlo Calderón, México (1907-1954), foi uma conhecida pintora. Apoiou o Partido Comunista.

Violeta do Carmen Parra Sandoval, Chile (19171967) foi cantora e compositora, pintora, escultora, bordadeira e ceramista chilena. Em comemoração ao seu nascimento em 4 de outubro, foi escolhido como o ”Dia da música e dos músicos chilenos”.

Haydée Mercedes Sosa, Argentina (1935-2009) considerada a maior expoente do folclore argentino. É conhecida como a Voz da América Latina.

Não quero terminar sem considerar as três únicas santas latino-americanas: Rosa de Lima, primeira santa da América, canonizada em 1671. Mariana de Jesus, equatoriana, 1618-1645, nomeada “Heroína nacional” por seu trabalho contra a epidemia que assolava o seu país. E Teresa dos Andes, religiosa chilena carmelita descalça

 

María Pau Trayner Vilanova
 Grupo de Mulheres na Igreja pela Paridade, Barcelona, Catalunha