O Dragão e o Tigre
Sérgio Abreu e Mauro Kano
Uma das tradições do Oriente diz que o Dragão é de natureza Yang. Voa pelo céu e, quando ruge, as nuvens nascem e as dez mil coisas são umedecidas. Sua forma primordial é o Dragão Verde; sua direção é Leste; seu elemento é Madeira; sua estação é a Primavera; e, em relação à humanidade, representa a benevolência. Seu trigrama é Chen e, no corpo, é o Fígado.
O Tigre é de natureza Yin. Corre pelo chão e, quando ruge, os ventos sopram nas montanhas e todos os insetos são subjugados. Sua forma primordial é o Tigre Branco; sua direção é o Oeste; seu elemento é o Metal; sua estação é o Outono; e, em relação à humanidade, representa a integridade e honra. Seu trigrama é Tui e, no corpo, são os Pulmões.
O Dragão e o Tigre estão em constante disputa. Ou, também, pode ser uma constante brincadeira. É esse movimento de perseguição mútua que produz o equilíbrio.
O Yang é o dia, a claridade, a dispersão, o calor, a agitação, o masculino, o ímpar. Quanto mais esses aspectos se intensificam, indica que estão chegando no seu limite, no ápice e, a partir daí, vai dando espaço ao Yin, à noite, à escuridão, à concentração, ao frio, à tranquilidade, ao feminino, ao par. E o mesmo vai acontecendo quando o Yin chega em sua plenitude, começando a dar vida ao Yang. E o ciclo permanece, para sempre.
A tecnologia avança, as redes sociais, a internet, as diversas conexões instantâneas, a automação. O mundo virtual, intocável, e a metalização das relações, tudo muito frio, relações frias, superficiais. Sabemos que, ao mesmo tempo, é necessário avançar também no com-tato, no calor das relações humanas, na flexibilidade e maciez da pele, do abraço, da profundidade do coração. O relacionamento, afetivo ou social, é construção, constante e lenta. O contato com a Natureza, com a terra, com a água, com as pessoas, é chamado para completar e impulsionar o ciclo da tecnologia. O olhar, ao invés do Mercado, precisa se voltar, também, para o outro, a outra.
Assim como a informação se espalha com rapidez incrível, esse tsunami carrega as pragas, os vírus, as doenças. Toda essa tecnologia poderia estar, também, a serviço da vida. Aliás, a serviço da vida em primeiro lugar. Com as descobertas da física quântica, através da frequência correta, poder-se-ia curar muitas vidas.
Quanto mais complexas se tornam as grandes cidades, uma vivência no campo é condição para uma vida saudável, encontros saudáveis. Quanto mais o capitalismo cria seus conflitos e injustiças, mais se faz necessário a organização, resistência e mobilização do povo. Quanto mais as mulheres, os jovens, os afrodescendentes, os indígenas e tantos outros grupos forem ameaçados e violentados, mais força e ousadia é preciso, para transformar a realidade e construir uma sociedade mais justa e feliz.
Grandes são os desafios. E precisamos que nós, os pobres, façamos girar o outro lado da vida e da sociedade. Como na tradição do Oriente, precisamos buscar o equilíbrio entre o Yang e o Yin para que cheguemos à plenitude do Bem Viver. Esse equilíbrio não se ganha do céu, nem é seguir por entre o meio, o tranquilo, o morno, entre o quente e o frio. Sempre que a corda é puxada para a direita, precisamos fazê-la girar para a esquerda. Quando há muita miséria, precisamos partilhar as abundâncias de nosso trabalho. É caminhar, sonhando e lutando, juntos e juntas, transformando as nossas relações e lutas, construindo um mundo mais justo, fraterno e igualitário, harmonioso, saudável e sustentável para todas as pessoas e seres que o povoam.