O imperialismo dos EUA, hoje
O imperialismo dos EUA, hoje
James PETRAS
Para compreender a atual configuração do poder mundial e as relações entre os Estados, o conceitos de Imperialismo é mais preciso e científico que conceitos vagos e amorfos como o de «globalização». No sistema imperialista atual há três centros principais que são aliados e também competem: os EUA, a União Européia e o Japão.
Base econômica do poder imperialista dos EUA
Um estudo recente levado a risca pelo «Financial Times» sobre as maiores companhias do mundo segundo sua capitalização do mercado, revela que entre as 500 maiores companhias do mundo, 244 são dos EUA, 46 do Japão e 23 da Alemanha. Ainda que considerando toda a Europa junta, somente 173 são européias, muito abaixo dos EUA.
Das 25 maiores multinacionais, aquelas cuja capitalização excede os $ 86 bilhões, a concentração de poder econômico dos EUA é ainda mais clara. Mais de 70% são dos EUA, 26% são européias e somente 4% são japonesas. Dado que as multinacionais controlam o comércio, os empréstimos e os investimentos, é principalmente os EUA quem têm emergido como potência dominante opressora. Sendo que as maiores companhias são a principal força na compra das menores companhias, através de ligações e aquisições, podemos esperar que as multinacionais dos EUA desempenharão um papel importante no processo de concentração e de centralização do capital. Estudos recentes demonstram que nas corporações multinacionais mais de 80% das decisões sobre tecnologia e inversão são tomadas pela «casa matriz» imperial, refutando a pretensão dos teóricos da globalização de que «as corporações multinacionais não têm nacionalidade».
Centenas de bilhões de dólares em ganâncias, pagos de interesses e «royalties» enchem os cofres das corporações com base nos EUA, enriquecendo a poucos no norte e empobrecendo aos pobres no sul. A participação dos EUA nos benefícios mundiais tem passado de 36% em 1990 a 43% em 1998. O poder financeiro se concen-tra ainda mais: dos 13 bancos de maiores investimentos, 11 pertencem e são dirigidos pelos EUA.
As chamadas «Instituições Financeiras Internacionais» (IFI) como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), não são realmente internacionais, posto que são controlados pelos EUA e em menor grau pelos Estados Europeus.
O poder dos votos nas «IFIs» se embasa na contribuição financeira, e dá aos EUA o poder de vetar ou de impor determinadas condições nos empréstimos, o que força aos que recebem a privatizar, a desregular suas economias e a eliminar as barreiras comerciais.
Os diretores das IFIs são delegados designados pelo Tesouro dos EUA e os ministérios financeiros europeus. Seguem a política ditada pelo Estado imperialista, que por sua vez trabalha muito de perto com Wall Street, a Bolsa de Londres, etc. Em outras palavras, o caráter multilateral ou internacional destas instituições financeiras é uma fachada que dissimula o verdadeiro poder exercido pelos Estados imperiais em favor de suas multinacionais. O FMI, o BM e o BID não são poderes internacionais; mas sim extensões financeiras do Estado imperialista. As políticas neoliberais impostas pelas IFIs beneficiam diretamente as multinacionais, através das políticas de ajuste estrutural, que facilitam os pagamentos da dívida externa a bancos dos EUA a gastos dos salários e os programas sociais para as massas urbanas e rurais.
O crescente poder das corporações multinacionais dos EUA está ligado diretamente à influência e dominação de Washington sobre as instituições financeiras internacionais. Ambos poderes fortalecem e expandem o império econômico dos EUA: poder político e imperialismo econômico dos EUA. Este imperialismo econômico depende do poder político, da capacidade do estado imperial para intervir e estabelecer regimes que os sejam favoráveis, assim como códigos legais e garantias para a inversão econômica dos EUA e o pagamento das dívidas. O Estado imperial dos EUA é o instrumento principal para conquistar e recolonizar regiões para os investidores, financiadores e comerciantes.
Washington tem várias agências governamentais para realizar estas funções: as forças armadas para usar força (ou ameaçar com ela) para defender regimes pró-capitalistas ou derrotar governos progressistas; uma extensa área de espionagem internacional e agências de polícia secreta (Ia CIA, DIA, DEA, NSA, etc), que organizam esquadrões de morte, recrutam informantes e em geral desestabilizam regimes anti-imperialistas ou eliminam movimentos progressistas. O Departamento do Dinheiro, por meio das instituições unilaterais, bilaterais ou multilaterais, proporciona ajuda econômica para os regimes cúmplices , ou dominando a seus adversários. Também coordena a propaganda com os meios de comunicação privados de forma que transmitam a linha de pensamento imperial.
O Departamento de Defesa organiza a intervenção militar, treina a forças repressivas e proporciona armas ao exército do cliente para proteger os regimes neo-liberais que abrem a porta para a tomada de posse de seus setores econômicos estratégicos.
Washington prefere funcionar através das instituições multilaterais como as Nações Unidas (ONU) ou a Organização de Estados Americanos (OEA) se é possível, porém usará força unilateral se é necessário para defender os interesses imperialistas. Os EUA ganham poder na ONU mediante empréstimos, influência militar, regimes cúmplices, promessas comerciais... Quando surgem assuntos políticos importantes para o debate, Washington junta os votos de seus clientes, ou usa sua influência, ou põem a recusa no Conselho de Seguridade para bloquear ou para implementar políticas imperialistas.
A dominação dos EUA segue caminhos multilaterais, bilaterais ou unilaterais, segundo qual seja o melhor mecanismo disponível em cada momento para realizar seus impressos imperiais: a invasão de Kosovo foi multilateral, o boicote dos EUA a Cuba (Helms-Burton) é unilateral, o apoio dos EUA a Israel contra os palestinos é bilateral. Diferentes táticas para o mesmo fim político estratégico.
As diversas instituições políticas dos EUA se complementam entre elas, dando poder coercitivo econômico, político e ideológico às multinacionais e combatendo aos adversários nacionalistas e progressistas ou aos competidores imperiais.
As bases ideológicas do poder imperialista
A força é o último recurso do império. Os EUA confiam na propaganda ideológica para ganhar aderentes e para desmoralizar e desorientar os seus grandes adversários. Primeiro se utiliza da ideologia para justificar ou legitimar a intervenção imperialista. Para convencer o público, nos EUA e em outras partes, Washington sustenta o argumento de que seu esforço militar de destruir aos movimentos populares e movimentos sociais que lutam contra as desigualdades sociais e a exportação é por razões humanas.
A campanha antidrogas dos EUA tem conduzido a crer novas bases militares e a intervenção militar direta. Na Colômbia, os EUA escalaram sua campanha da militarização através do Plano Colômbia, dirigindo e financiando a repressão e aos grupos paramilitares contra os exércitos da guerrilha e as organizações populares que protestam pelo regime neoliberal. A campanha anti-drogas de Washington é uma fraude, posto que a maioria dos traficantes da droga se encontram entre os militares e os aliados políticos de Washington, e a maior parte do dinheiro da droga é levado aos bancos dos EUA em Miami, Mova Iorque, etc. Ideologias antidrogas e antiterroristas se utilizam para disfarçar e legitimar a recolonização da América Latina por Washington, e se dirigem à repressão de movimentos que desafiam a hegemonia dos EUA.
Os meios de comunicação massivos, a CNN e os monopólios locais e estrangeiros, transmitem a propaganda de Washington e passam a imagem de serem agências de notícias privadas, independentes. A centralização e concentração dos meios maciço de comunicação e suas crescentes conexões aos centros imperialistas facilitam a conexão entre os monopólios nacionais maciço e os que ditam a política imperialista.
Conclusão
A dominação imperial dos EUA é o problema principal do novo milênio. A transferência maciço da riqueza do imperialismo aos ricos do norte e oligarquias do sul vão emparelhadas com o crescente exército de pobres no Sul e aos decadentes salários dos trabalhadores no norte. Sem impedimento, o fenômeno está provocando resis-tência popular, movimentos anti-imperialistas na Colômbia, revolução social dos camponeses da Bolívia, Brasil, Paraguai, regimes nacionalistas na Venezuela... Mesmo que os EUA dominem o mundo hoje, a crescente resis-tência questiona o império de amanhã.
James PETRAS
New York