O Império em dados

O Imério em dados
Desnudando as conseqüências do sistema

Janna MOLAS GARRIGA


Situação de pobreza: uma renda máxima de dois dólares diários. Cobre a alimentação, mas não vestuário, moradia, saúde, educação, transporte...

Situação de pobreza extrema: uma renda máxima de um dólar diário. As rendas mensais não são suficientes para cobrir a alimentação.

A população mundial é de 6,2 bilhões de pessoas. E 46% delas, 2,852 bilhões, estão em estado de pobreza, e 1,2 bilhão, em pobreza extrema.

No continente americano, vivem mais de 800 milhões. Nos EUA, 280 milhões. Na América Latina ( = AL), 600 milhões.

Na AL, 44,4% da população, 227 milhões, vivem na pobreza e 19,4%, 100 milhões, em indigência. Mais de 90 milhões de camponeses da AL vivem na pobreza, sendo que dentre estes, 47 milhões, em extrema pobreza.

A pobreza no campo passou de 10% para 20%, nos anos 2001-2003.

A agricultura representa 58% do PIB da Nicarágua, 41% de El Salvador, 47% da Guatemala, 40% de Honduras e 24% da Costa Rica.

A fome continua sendo um dos principias problemas para milhões de pessoas, mesmo que a quantidade de alimentos que se produz seja muito superior à necessária-.

850 milhões de pessoas padecem de fome no mundo, delas, 806 milhões nos países pobres, 100 delas na AL e 44 milhões no Norte. Cerca de 20% da população da Bolívia, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua e Repú-blica Dominicana passa fome.

ÁGUA

Em futuro próximo, algumas guerras deixarão de ser pelo petróleo e sim pela água. A falta de acesso à água ou ingerir água contaminada provocam milhões de mortes, cada ano.

Mais de 1,3 bilhão de pessoas no mundo carecem de acesso à água. Na AL, 165 milhões. Morrem diariamente no mundo 25.000 pessoas por ingerir água de má qualidade.

O consumo de água dobra a cada 20 anos. Em 2025, a demanda será 56% maior que a água disponível. Dois terços da população não terão água.

Multinacionais como Monsanto y Bechtel (EUA) estão tentando apoderar-se dos recursos hídricos.

EDUCAÇÃO

A política neo-liberal não considera a educação como um dever do Estado. O imperialismo não garante uma educação de qualidade para todos, contribuindo para o analfabetismo, a escolaridade precária, a desistência escolar, a privatização de universidades... a nível educativo mais baixo, uma população mais manipulável.

No mundo, existe 1 bilhão de pessoas analfabetas. Dois terços são mulheres. Na AL, existem 60 milhões de analfabetos, 10% da população.

No mundo, existem 113 milhões de meninos/as sem escolaridade, as meninas são 57% e tem 20% menos possibilidade de chegar ao sistema educacional primário.

O nível educacional da AL é 5,5 anos, um dos mais baixos do mundo.

SAÚDE

Como a educação, a saúde tem deixado de ser res-ponsabilidade do Estado. Não têm serviço adequado de saúde 2,6 bilhões de pessoas. Isso gera milhões de mortes – a maior parte evitável – e 11 milhões de menores de 5 anos morrem de diarréia, malária e sarampo, ao ano.

800 milhões, 13% da população, sofrem de desnutrição.

Na AL, existem 54 milhões de pessoas desnutridas, o que representa 8,3% da população total.

36% dos menores de 2 anos da AL estavam em situação de risco em 2000.

Quase 9% da população, menor de 5 anos, sofre de desnutrição aguda e 19,4% de desnutrição crônica (baixa estatura em relação à idade).

A desnutrição crônica afeta a, pelo menos, uma de cada cinco crianças na Bolívia, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, zonas rurais do México, Nicarágua e Peru.

Na Argentina, que potencialmente poderia produzir alimentos para 300 milhões de pessoas, morrem diariamente 30 crianças por desnutrição.

Mais de 80% da produção mundial de remédios se consome nos países ricos.

Um terço da população mundial – 2 bilhões – carece de acesso a medicamentos essenciais.

Por isto, cada dia, morrem no mundo mais de 30.000 pessoas de doenças curáveis. Mais de 90% destas mortes ocorrem nos países pobres.

A Malária ocasiona 3 mortes por minuto, cerca de 4.320 mortes diárias. A AIDS, o dobro. O preço médio dos remédios contra a AIDS que comercializam as empresas multinacionais se eleva a US$9.000 por ano para cada paciente. Laboratórios farmacêuticos do Brasil e da Índia estão comercializando medicamentos genéricos contra a AIDS, cujo preço não ultrapassa US$10 ao dia (US$3.650 ao ano). As multinacionais investem em comerciali-zação (publicidade e anexos) o dobro que em pesquisa.

Segundo a OMS, dos 10,3 milhões de menores de 5 anos que morreram no mundo no ano 2000, 8,6 milhões (mais de 80%) poderiam ter sido salvos com um acesso regular a medicamentos essenciais. Na AL, 121 milhões de pessoas estão excluídas dos benefícios da saúde.

CRIANÇAS E MULHERES

As conseqüências das políticas do Império afetam a todo o mundo, porém são mais negativas para dois setores da população: as crianças e as mulheres.

Na AL, existem 270 milhões de crianças menores de 18 anos, o que representa 45% de sua população.

Na AL, um milhão de crianças morrem, ao ano, pela pobreza: 2.700 por dia, 114/hora, quase 2/minuto.

Duzentos e cinqüenta milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo trabalham em condições de exploração. Cerca de 61%, na Ásia, 32%, na África e 17% (18 milhões), na AL.

De cada 4 milhões de habitantes, 126 mil crianças trabalham; destas 35 mil, em zonas urbanas; 62 mil trabalham e estudam, 50 mil trabalham e não estudam.

Quarenta milhões de crianças vivem nas ruas da AL. Destas, 20 milhões se intoxicam inalando cola, e destas, cerca de 70% é viciada. O negócio da cola é um monopólio de empresas dos EUA, encabeçado pela empresa HB Fuller (fabricante de Resistol). Se existem na AL 20 milhões de consumidores diários, são 20 milhões de galões, ao mês.

A metade dos civis mortos nas guerras da última década eram crianças,

O papel de cabeça da família, na AL, é desempenhado pela mulher, em oito a dez milhões de casos.

Dois a três milhões de mulheres se empregam como temporárias na AL. 30 a 40 milhões de mulheres trabalham com granjas e pequenos negócios rurais, na AL. Na AL, de 70% a 90% da força de trabalho, em linhas de montagem, é feminina. Nas zonas urbanas da AL, cerca de 45% das mulheres carece de dinheiro próprio, em comparação a 21% dos homens.

MEIO AMBIENTE

O meio ambiente foi deixado desprotegido diante do império. A terra deixou de ser a mãe que alimenta e protege, para ser vista somente como geradora de energia e recursos, dispostos para que as empresas os explorem. Sem pensar que a maioria dos recursos se esgotaram rapidamente e que estamos impossibilitando que as gerações futuras conheçam a natureza em seu estado selvagem e sim uma balbúrdia artificial de natureza domesticada.

As pescarias em todos os mares do Planeta têm sofrido uma diminuição de 75% de seu nível médio.

O desmatamento das florestas tropicais continua de maneira indiscriminada, com uma previsão de novas perdas de 10% até o ano 2020.

O aumento da poluição atmosférica, com expectativas muito negativas de crescimento dos veículos automores de 40% e um aumento generalizado da produção de energia de 35%, nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos), até o ano 2020.

As fontes de água potável, nos países da OCDE, continuam sofrendo preocupante infiltração de resíduos químicos venenosos, com previsão de que a deterioração aumente 25% até o ano 2002.

Em algumas zonas do Pólo Norte, durante os meses de verão, em lugar dos 2 ou 3 metros de gelo habituais, há, agora, água em estado líquido. Os cientistas calculam que a última vez que a região polar esteve livre de gelo foi há 50 milhões de anos. Desde 1950, a grossura média do gelo da calota polar, durante a estação do verão, se reduziu em 40%.

Nos países pobres, desaparecem, a cada ano, 16 milhões de hectares de florestas. E 50% da madeira e 84% do papel são consumidos nos países ricos.

DÍVIDA ETERNA

O imperialismo continua conseguindo benefícios econômicos através dos impostos, taxas de renovação e novas condições de pagamento, da dívida externa inicial, que muitos países já pagaram totalmente.

A dívida externa da AL é de 792 bilhões de dólares.

Os EUA também suportam o grave peso de uma dívida pública de 450.000 milhões de dólares, em junho de 2000, a maior dívida econômica mundial, por isso necessita criar o maior mercado do mundo para seus próprios interesses.

Em 1970, a dívida externa dos países em desenvolvimento alcançava a cifra de 62.627 bilhões. Em 1990, a dívida destes países havia aumentado até chegar à quantidade de 1,179.328 trilhão, representando 34,1% do PIB.

Em 2001, o valor da dívida externa dos países em desenvolvimento crescia para 1,99 trilhão: 24,1% se deve a organismos bilaterais, 17,3% a organismos multi-laterais e 58,6% ao setor privado: bancos, seguros, fundos de investimento e de pensões, empresas. A dívida representou 38,2% do PIB.

Na AL, em 2000, o custo pelo serviço da dívida externa da região foi de 179,222 milhões, o que representa 38,7% do total da receita obtida através das exportações, divididos em: 11,5% em lucros e 27,2% em amortizações.

Na AL, em 1999, havia 5 países cujos pagamen-tos por serviços da dívida externa eram superiores a 30% do valor de suas exportações: Argentina com 75,93%, Bolívia com 32,05%, Brasil com 110,94%, Colômbia com 42,86% e Peru com 32,65%.

Na AL, encontramos dois países, em 1999, cuja dívida externa era superior ao seu PIB: Nicarágua e Honduras.

No ano 2000, os custos do serviço da dívida exter-na paga pelos países em desenvolvimento chegou à quantia de 398,861 bilhões, enquanto que a Ajuda Ofi-cial ao Desenvolvimento por parte dos países da OCDE (os industrializados), chegou à soma de 57,737 milhões de dólares. Quer dizer: os países pobres pagaram aos ricos, em custos da dívida, 7,4 vezes mais que a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento que receberam.

A África destina duas vezes mais dinheiro ao pagamen-to da dívida externa que aos serviços sanitários. Durante o período de 1982-1992 tinha pago a quantia de 240 bilhões pela dívida. Os países pobres duplicaram sua dívida entre 1992 e 1998.

MULTINACIONAIS

As multinacionais se têm convertido em grandes corporações financeiras, com um poder que passa por cima dos Estados. Seu maior interesse é garantir e defender sua expansão econômica, seja como for.

A expansão das empresas multicionais (EI) através do investimento estrangeiro direto (IED), em todo o mundo, é um dos fenômenos centrais do processo de “globalização econômica”. Nos anos 90, as vendas das filiais das EI cresceram mais rapidamente que as exportações globais na AL.

Em 2000, os fluxos mundiais de IED superaram 1,1 trilhão. Na AL, 74 bilhões.

As dez empresas mais importantes de cada setor controlavam, em 2001, os seguintes percentuais em escala mundial: 86% das telecomunicações, 70% da informática, 60% dos produtos veterinários e 35% dos remédios.

Cerca de 75% do comércio mundial se realiza entre as empresas multinacionais e 50% se comercializa entre os EUA, Japão e a União Européia, EU, onde se concentra 15% da população mundial e cujas empresas produzem 75% do Produto Nacional Bruto, PNB, mundial.

Nos países industrializados se encontram 97% das patentes do mundo. Em um setor tão atual como é a biotecnologia, as 5 principais empresas, com sede nos EUA e Europa, controlam mais de 95% das patentes de investigação genética.

O valor agregado da empresa Exxon é ligeiramente inferior ao produto interno bruto (PIB) do Chile e superior ao do Peru, enquanto que a Mitsubishi e Sony se equiparam ao PIB do Uruguai e da República Dominicana.

O PIB do Equador é semelhante ao valor agregado da Telefônica da Espanha e o tamanho da economia em Honduras é igual ao poderio econômico do McDonalds ou ao da Pepsi Cola Company, ambas dos EUA.

O valor na Bolsa das 10 maiores companhias multinacionais supera o PIB de 150 dos 189 Estados da ONU.

Os 5 maiores bancos transnacionais mais importantes na AL, segundo ativos consolidados em 2001, são:

1: Banco Santander Central Hispano (HSBC) da Espanha, com um investimento de 80,651 bilhões de dólares.

2: Citibank dos EUA, com um investimento de 32,598 bilhões.

3: Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) da Espaha com um investimento de 27.975 bilhões.

4: Bank Boston dos EUA com um investimento de 24,483 bilhões.

5: ABN Amor Holding dos Países Baixos com um investimento de 15,397 bilhões.

DIVISÃO DA RIQUEZA MUNDIAL

No mundo, ha suficiente riqueza para que todas as pessoas possam viver em condições dignas com todas as necessidades básicas cobertas; o problema é que esta riqueza não está distribuída de forma eqüitativa, senão que uns poucos têm muito, enquanto que a grande maioria sobrevive com quase nada.

O PIB mundial é de 25 trilhões de dólares, o G7 (EUA, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Itália e Japão) controlam 18 trilhões do total.

Excetuando o Brasil, todos os demais países da AL somam somente 12,30% do PIB do continente ameri-cano.

Uma das principais fontes de remessas para a AL são as enviadas pelos que emigraram para os EUA. Em 2003, chegaram a 33 bilhões.

Em 2003, AL transferiu para o exterior 4,5% de seu PIB.

A economia dos EUA gera 78,2% do PIB de todo o continente americano.

Os 20% restantes se distribuem entre Brasil, México, Argentina e Canadá.

Nos EUA, vivem 6% da população mundial, com 50% da riqueza mundial.

A renda per capita dos EUA foi de US$34.320 em 2001.

Os EUA detêm quase 50% das 500 corporações multinacionais e bancos maiores do mundo.

A AL, especialmente México, Venezuela e Equador, é a principal fonte de importação de energia necessária para sustentar a economia dos EUA.

Entre 1990 e 2000, mais de 900 bilhões foram trans-feridos aos EUA em forma de pagamentos de lucros, royalties, juros e transferências ilícitas de dinheiro das corruptas elites locais latino-americanas.

O G8 (EUA, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Japão e, em menor medida, Rússia) concentram 60% da riqueza total do mundo.

Em 2002, 2,8 bilhões de pessoas subsistiam no mun-do com menos de 2 dólares diários. E 1,2 bilhão subsis-tiam em 2002, com menos de um dólar diário.

Cinqüenta milhões de pessoas, 1% da população mundial, têm lucros equivalentes ao de 57% dos mais pobres: cerca de 2,7 bilhões de pessoas.

Cem pessoas acumulam riqueza equivalente aos lucros de todos os países pobres.

O lucro médio dos 20 países mais ricos é 37 vezes maior que o lucro médio das 20 nações mais pobres.

Na AL, os 10% mais ricos da população alcançam 60% da riqueza, enquanto que os 10% mais pobres apenas chegam a 2%.

Os 14 países latino-americanos mais ricos, segundo a revista “Forbes”, acumulam fortunas que, somadas, superam 50 bilhões de dólares, cifra que representa a receita anual de mais de 100 milhões de habitantes mais pobres da região.

Nos EUA, existem 46 milhões de indigentes, 52 milhões de analfabetos, 30 milhões de pessoas com uma expectativa de vida inferior a 60 anos, 40 milhões de pessoas sem assistência sanitária.

O NEGÓCIO DA GUERRA

No mundo, gastam-se 900 bilhões de dólares em armamento. E 50% deste montante se gastam nos EUA.

O orçamento dos EUA, em 2004, em armas, foi de 440 bilhões. Para 2009, pretende-se gastar 2,1 bilhões.

Os EUA têm 120 bases militares ao redor do mundo e centenas de missões militares.

O custo para assegurar educação básica, saúde básica, saúde reprodutiva, alimentação suficiente, água limpa e saneamento... é de 44 bilhões ao ano; 10% do orçamento em armas dos EUA.

A Companhia Carlyle, dos EUA, é a companhia mais bem estabelecida do mundo para financiamento de companhias não taxadas na Bolsa, cujos maciços holdings na maquinaria de guerra foram enormemente aumentados com o saque de Bagdá por parte do governo dos EUA. Em 2003, George Walter Bush tinha transferido para a companhia Carlyle 2,1 bilhões de dólares.

Willian Busch, tio do atual presidente dos EUA, é diretor da Engineering Systems Inc. (ESSI), fornecedor de artigos militares de alta tecnologia, empresa que, somente no ano 2003, tinha vendido 13 milhões de dólares em equipamentos avançados de radar para pôr em dia a frota de caças da China.

Na primeira semana da guerra contra o Iraque, a empresa ESSI ganhou 19 milhões de dólares por um embarque de unidades CBP (sistema de refúgio protegido contra ataques químicos e biológicos). Além de 44 milhões em unidades anti-ADM (armas de destruição em massa).

A ESSI recebeu 380 milhões de dólares do Pentágono somente em 2003, sem contar o negócio chinês e uma porção extra de 26 milhões de dólares da Arábia Saudita pela manutenção de sua Real Força Aérea.

ERRADICAÇÃO DA POBREZA

O custo para erradicar a pobreza representaria em torno de 1% das receitas mundiais e não mais que 2% ou 3% da receita nacional dos países, salvo os mais pobres.

Estima-se que somente nos mercados de divisas se realizam diariamente operações superiores a 20 trilhões de dólares. Se se aplicar a chamada taxa Tobin, poderiam ser obtidos recursos de cerca de 2 trilhões de dólares ao ano, com os quais se poderiam resolver alguns dos problemas de miséria e desigualdade mais agudas.

 

Janna MOLAS GARRIGA

(Equipede trabalho da Agenda Latino-americana da Nicarágua)