O outro eixo do mal

O outro eixo do mal

Inácio RAMONET


Precisamos entender que o neoliberalismo está atacando a ordem social existente em três frentes.

A frente econômica está dirigida pelo Fundo Mone-tário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e a Organi-zação Mundial do Comércio (OMC): estas três organiza-ções formam o verdadeiro “eixo do mal”. Este abominável triunvirato produz uma grande ruína e procura impor uma agenda econômica baseada na preemi-nên-cia do setor privado e dos mercados e na ganância. Basta considerar fatos tais como a fraude de rodeia a quebra da Enron, a crise monetária da Turquia, o calapso da Argentina e a devastação ambiental.

É necessário a remissão total da dívida dos países do Terceiro Mundo, criar um sistema justo que controle a amortização das dívidas desta nações, garantir que as condições de financiamento sejam adequadas e que sejam utilizadas para o desenvolvimento, garantir que as nações ricas destinem pelo menos 0,7% de seus orça-mentos para financiar este desenvolvimento, restaurar o equilíbrio comercial entre o Norte e o Sul, imple-mentar políticas que assegurem que cada país tenha soberania sobre sua segurança alimentícia, regular a irraciona-li-da-de do fluxo mundial de capitais, ilegalizar o sigilo ban-cário, abolir os paraísos fiscais, e criar um sistema de impostos às transações financeiras inter-na-cionais.

A segunda frente é a ideológica, que é silenciosa e invisível. Há toda uma montagem cujo objetivo é convencer a humanidade de que globalização trará a felici-dade universal. Para a realização deste objetivo conta-se com a ativa colaboração das universidades, os centros de investigação (tais como a Heritage Foundation, o Ame-ri-can Enterprise Institute e o Cato Institute) e a coope-ra-ção dos principais meios de comunicação (tais como a CNN, o Financial Times, o Wall Street Journal e o The Economist), imitados por jornalistas de todo o mundo. Armados com o monopólio da informação, os guerreiros ideológicos da globalização regem uma ditadura que depende da cumplicidade passiva daqueles aos quais subordina.

A manipulação dos meios de comunicação iniciou-se oficialmente quando o Pentágono abriu a Oficina de Influência Estratégica, imediatamente depois dos ataques de 11 de setembro. A função explicitamente orwel-liana desta oficina é a de difundir informação enganosa com o fim de fazer uma lavagem cerebral na imprensa internacional e “influenciar a opinião pública e os dirigentes políticos, tanto nos países amigos como nos menos amistosos”. O que nos faz recordar os obscuros anos do macartismo e da guerra fria, quando MacCarthy atuava como um ministro virtual da desinformação e propaganda, que operava soba direção do Departamento dos EUA e foi acusado de propagar uma “versão oficial da verdade” . Atividade que sempre esteve associada com as grotescas ditaduras do mundo.

A terceira frente é a militar. A ofensiva que se iniciou depois do dia 11 de setembro busca fornecer ao movimento da globalização um aparato de segurança que seja muito efetivo. O EUA tentaram atribuir a responsa-bilidade à OTAN, porém decidiram assumi-la totalmente, pois têm meios para fazê-lo com uma eficácia espe-ta-cu-lar. A guerra do Afeganistão contra os talibãs e Al Qaeda convenceu Washington de que seria fútil, dado ao ta-ma-nho da tarefa, pedir algo mais que ajuda simbólica a seus principais aliados militares (Inglaterra e França) ou ainda à OTAN.

Washington resolveu não consultar seus aliados antes de declarar que seu ataque contra o Iraque era iminente, demonstrando seu desdém por eles. O alto nível inicial dos protestos europeus vieram perdendo força, e não foram levados em conta pela administração de Bush. Supõe-se que os vassalos se ajoelhem, uma vez que os Estados Unidos desejam exercer um poder político absoluto. ‘De alguma maneira é o proto-Estado Global, escreve o jornalista William Pfaff. ”Os EUA são potencialmente a cabeça de uma versão moderna de um império universal – um império desejado cujos membros são voluntários”.

O império norte-americano quer impor a globalização neoliberal como uma realidade. Todos os que se opuse-rem devem ter consciência plena de que os EUA irão combatê-los. A era do respeito aos Direitos Humanos terminou-se, como podemos ver nas vergo-nho-sas con-di-ções existentes na colônia penal de Guantá-na-mo em Cuba, onde muitos europeus (incluindo franceses, ingleses e espanhóis) foram confinados em jaulas. O eixo do mal, constituído pelo FMI, o BM e a OMC, havia ocultado sua verdadeira natureza. Agora pode-se ver o que realmente são!