Os Animais Devem Estar Fora do Menu

Os Animais Devem Estar Fora do Menu

Philip Wollen


Sentir o mundo

Noite nas falésias. O rei Lear pergunta ao cego conde de Gloucester: ‘Como o senhor vê o mundo?’. E o cego Gloucester lhe responde: ‘Eu o vejo sentindo-o’.

Não deveríamos todos vê-lo assim? Os animais devem estar fora do menu. Esta noite, milhares de animais estarão gritando desesperados e aterrorizados em matadouros, em caixas e em jaulas. Gulags autênticos.

Sofrem da mesma forma como nós

Ouvi os gritos de meu pai quando agonizava, enquanto o seu corpo era devastado pelo câncer que terminou matando-o. E percebi que havia ouvido esses gritos antes. Nos matadouros, com seus olhos esfaqueados e seus tendões cortados, nos barcos de gado que iam para o Oriente Médio. E na moribunda baleia, que chamava a sua cria, quando o arpão de um barco japonês explodia em seu cérebro. Seus gritos eram os gritos de meu pai.

Descobri que quando sofremos, sofremos de maneira igual. E, em sua capacidade de sofrer, um cachorro é igual a um porco, é igual a um urso e é igual a uma criança.

Um crime de proporções inimagináveis

A carne é o novo veneno, mais mortífero que o tabaco. O CO2, o metano e o óxido nitroso da indústria pecuária estão matando nossos oceanos, deixando amplas zonas ácidas e mortas; 90% dos peixes pequenos são moídos para alimentar o gado. As vacas, sendo vegetarianas, são agora as maiores depredadoras do oceano. Os oceanos estão morrendo. Em 2048 todos os peixes estarão mortos.

Bilhões de franguinhos são triturados vivos simplesmente porque são machos. Torturamos e matamos 2 bilhões de animais a cada semana; 10 mil espécies são eliminadas cada ano por causa das ações de uma só espécie. Estamos diante de uma extinção massiva. Se qualquer outro organismo houvesse feito isso, um biólogo o definiria como um “vírus”. Trata-se de um ‘crime contra a humanidade’ de proporções inimagináveis.

O mundo mudou, mas nem tanto

Felizmente, o mundo mudou. Há dez anos, Twitter era o som de um pássaro. WWW era o teclado bloqueado. A nuvem estava no céu. Google era o arroto de um bebê. Skype era um erro tipográfico e o meu encanador era o Al-Qaeda. O escritor francês Victor Hugo disse: “não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”. Os Direitos dos Animais são agora o maior problema de justiça social desde a abolição da escravatura.

Há mais de 600 milhões de vegetarianos no mundo. Se fôssemos uma nação, seria maior que os 27 países da União Europeia. Apesar do enorme sinal demográfico, ainda estamos sufocados pelos imensos interesses econômicos dos que caçam, disparam e matam, aqueles que creem que a violência é a resposta, quando nem sequer deveria ser a pergunta.

Dieta saudável: zero carne

A carne é uma indústria de matança: mata os animais, mata a nós e nossas economias. Medicare já quebrou nos EUA. Precisaram de 8 bilhões de dólares investidos em bônus do Tesouro somente para pagar os juros. Poderiam fechar todas as escolas, exércitos, marinha, força aérea e os fuzileiros navais, o FBI e a CIA… e ainda não seriam capazes de pagá-lo. Depois de anos de estudos, as Universidades de Cornell e de Harvard chegaram à conclusão de que a quantidade ideal de carne para uma dieta saudável é justamente zero.

A água

A água é o novo petróleo. Em breve, as nações irão à guerra por ela. Os poços subterrâneos, que demoraram milhões de anos para se encher, estão secando. São necessários 50 mil litros de água para produzir um quilo de carne de vaca.

Menos carne para eliminar a fome

Bilhões de pessoas hoje têm fome; 20 milhões de pessoas morrerão por causa da desnutrição. Diminuir 10% da ingestão de carne poderia alimentar 100 milhões de pessoas. A eliminação da carne de nossa dieta pode acabar com a fome.

Se todo o mundo se alimentasse como nos alimentamos no Ocidente, precisaríamos de dois planetas Terra. Porém, só temos um. E está morrendo.

Os gases de efeito estufa, produzidos pelo gado, são cerca de 50% maiores do que os produzidos por todo o transporte: aviões, trens, caminhões, automóveis e barcos.

Quando viajo pelo mundo, vejo que os países pobres vendem cereais ao Ocidente, enquanto os próprios filhos morrem de fome. E o Ocidente alimenta o gado com esse grão. Para comermos carne? Sou o único que vê isso como um crime? Acreditem-me, cada porção de carne que comemos é como uma bofetada na cara de uma criança faminta. Quando olho seus olhos, devo permanecer em silêncio? A Terra pode produzir alimento suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não para satisfazer a avareza de alguns.

Diante da tempestade perfeita

Estamos enfrentando a tempestade perfeita. Se qualquer nação desenvolvesse armas que causassem esses prejuízos ao planeta, faríamos um ataque militar e a devolveríamos à Idade do Bronze. Porém, nesse caso não se trata de um Estado criminal. Trata-se de uma indústria. E a boa nova é que não é preciso bombardear. Podemos simplesmente deixar de comprar. Nossas facas e garfos são armas de destruição massiva.

Nossa proposta é uma solução prática para o futuro, uma solução que resolve nossos problemas ambientais de água, nossos problemas de saúde, e elimina a crueldade.

A Idade da Pedra não terminou porque ficaríamos sem pedras. A carne é como essas moedas de 1 e 2 centavos. Fazê-las custa mais do que valem. E os agricultores são os que mais ganharão com a mudança. A agricultura não terá fim, estará no auge. Apenas a linha de produtos mudará. Os agricultores ganharão tanto dinheiro que nem sequer se incomodariam em contar. Os governos estariam contentes conosco. Novas indústrias surgiriam e floresceriam. Os prêmios de seguros de saúde cairiam. As listas de espera desapareceriam. Raios! Seríamos tão saudáveis que seria necessário matar alguém apenas para criar um cemitério.

Dois desafios

Então lanço dois desafios:

1) Está comprovado que a carne produz uma ampla gama de cânceres e doenças do coração. Nomeiem, por favor, uma doença causada por uma dieta vegetariana.

2) Estou financiando a trilogia do documentário Earthlings (Terrícolas). Se nossos adversários estão tão seguros dos argumentos, desafio-os a enviar o documentário a todos os seus colegas e clientes. Vamos, desafio-os. Por que não ousam?

Animais: outras nações

Os animais não são apenas outras espécies. São outras nações. E assassinamo-los sob nossa responsabilidade. O mapa da paz se desenha em um menu.

A paz não é apenas a ausência de guerra. É a presença de Justiça. A Justiça deve ser cega para a raça, a cor, a religião... e espécie. Se não for assim, será uma arma de terror. E existe um terror inimaginável nesses horríveis guantánamos que chamamos de granjas industriais ou matadouros. Acreditem-me, se os matadouros tivessem paredes de cristal, não estaríamos falando disso.

Creio que outro mundo é possível. Nas noites tranquilas, posso escutar sua respiração. Tiremos os animais fora do menu e fora dessas câmaras de tortura. Por favor, sejamos a voz daqueles que não têm voz.

Veaja no youtube, só 10 min.: https://goo.gl/UbpovZ

 

Philip Wollen

Melbourne, Austrália