Panorama das religiões no mundo 1910-2010

Panorama das religiões no mundo 1910-2010

Franz DAMEN


1. Las religiones en el mundo

Por ocasião do centenário da Primeira Conferência Missionária Mundial (Edimburgo 1910), atualizaram-se os dados e as análises do panorama religioso, publicados já em 2000.1 A análise, a seguir, complementa esses dados.2

1. As religiões no mundo

O Quadro I.1 traz o número daqueles que aderiam às maiores religiões do mundo em 1910, comparado com o número de 2010, com suas porcentagens relacionadas à população mundial total. As duas últimas colunas mostram o crescimento por média anual dessas religiões no último século (1910-2010)* e na última década (2000-2010)**.

 

Quadro I.1 Demografia das religiões do mundo

(Em milhões) 1910 2010 * **
População mundial

1759

 (100%)

6096

(100%)

1,38 1,21
Cristãos

612

(34,8%)

2292

(33,2%)

1,33 1,35
Muçulmanos

220

(12,6%)

1549

1,97 1,82
Hindus

223

(12,7%)

948

(13,7%)

1,46 1,46
Agnósticos

3,36

(0,2%)

639

(9,3%)

5,39 0,36
Budistas

138

(7,8%)

468

(6,8%)

1,23 1,25
Religião popular na China

392

(22,3%)

458

(5,6%)

0,16 0,85
Religiões indígenas

135

(7,7%)

261

(3,8%)

0,66 1,21
Ateus

0,0%)

138

(2,0%)

6,55 0,09
Novas religiões

6,86

(0,4%)

64,4

(0.9%)

2,26 0,46
Judeus

13,1

(0,7%)

14,6

(0,2%)

0,10< 0,61
Espíritas

0,32

(0,0%)

13,9

(0,2)

3,84< 1,15

 

 

Na atualidade, a população mundial cresce em média 1,21% por ano. A grande maioria (88,7%) da população mundial declara-se religiosa. No decorrer do último século, tanto o cristianismo e o hinduísmo como também o budismo mantiveram sua presença relativa à população mundial. Em troca, o islamismo mostrou um crescimento muito forte.

No século XX, as religiões mundiais foram afetadas por mudanças consideráveis, entre elas:

- A conversão em massa de membros das religiões étnicas e indígenas para as religiões universais, particularmente ao cristianismo (África subsaariana e América Latina) e ao islamismo (Norte da África e Ásia Ocidental).

- Uma explosão da não crença (agnósticos e ateus) em todo o mundo, especialmente sob regimes comunistas, e sob a influência do secularismo, na Europa e América do Norte.

- A natalidade, como o fator determinante tradicional de crescimento e diminuição das religiões, cedeu em favor da conversão e do abandono.

- A globalização e a migração planetária criaram uma maior diversidade, tanto entre as religiões como também no interior das próprias religiões.

- Em geral, as grandes religiões mostraram-se relativamente estáveis. O panorama religioso apresenta-se hoje menos monolítico do que em 1910.

No século passado, o islamismo apresentou o maior crescimento mundial, especialmente na África e Ásia. Em troca, a presença relativa das religiões étnicas e indígenas, que em 1910 eram majoritárias na África e na Malásia, reduziu-se à metade, em favor do cristianismo e do islamismo.

O fator que, no começo e em meados do século XX, fomentou bastante o crescimento mundial explosivo da incredulidade e do ateísmo foi o comunismo (com as revoluções russa e chinesa).

Nos últimos cem anos, o cristianismo mundial sofreu uma ligeira diminuição relativa, enquanto se observou um deslocamento profundo em sua composição étnica e linguística. A diminuição notável no hemisfério norte-ocidental e na Ásia Central foi compensada com um forte crescimento no hemisfério sul. Enquanto em 1910, 95% de todos os cristãos viviam na Europa e na América do Norte, em 2010, mais de 60% vivem na África, Ásia e América Latina. Fora o crescimento notável na Ásia, o cristianismo conheceu na África Central um crescimento fenomenal de 1,1% para 81,7% da população. Por sua vez, as pequenas minorias de cristãos em países tão populosos como a China e a Índia, de fato, representam uma parte muito importante da população cristã mundial.

Atualmente, o cristianismo continua representando uma terceira parte da população mundial. Assim como as demais religiões mundiais, ele se diversificou consideravelmente nos últimos 100 anos.

Os dados estatísticos apresentados não nos informam sobre o ritmo e as flutuações reais que, no decurso do século passado, afetaram o crescimento ou a diminuição das religiões mundiais. Mas os dados da última década (2000-2010) nos dão alguma ideia da situação em que nos encontramos na atualidade.

Ao compararmos as médias do crescimento – seus índices anuais proporcionais – na última década (2000-2010) com as do período 1910-2010, podemos constatar já uma diminuição notável do crescimento da população mundial. Nesse contexto, as grandes religiões parecem se manter bem, e, inclusive, me-lhoram seu ritmo de crescimento. Ao mesmo tempo, as religiões étnicas (a religião popular chinesa e as religiões indígenas) demonstram um evidente ressurgimento, sendo que o judaísmo conseguiu se restabelecer. Por outro lado, tanto as novas religiões quanto o espiritismo e, sobretudo, os agnósticos e os ateus sofreram grandes perdas na última década.

2. As religiões na América Latina

Quadro I.2 Demografia das religiões na América latina

(Em milhões) 1910 2010 * **
População da América Latina 78,2 (100%) 593 (100%) 2,05 1,28
Cristãos 74 (95,2%)  549 (92,5%) 2,02 1,27
Agnóticos 0,446 (0,6%) 17,1 (2,9%) 3,72 1,38
Espíritas 0,31 (0,4%) 13,6 (2,3%) 3,85 1,19
Religiões indígenas 2,72 (3,5%) 3,7 (0,6%)    0,31 1,12
Ateus 0,012 (0%) 2,9 (0,5%) 5,6 1,43
Muçulmanos 0,067 (0,1%) 1,86 (0,3%) 3,37 1,19
Novas religiões 0,005(0,0%) 1,83 (0,3%) 6,08 2,26
Judeus  0,029 (0,0%)   0,93(0,2%)     3,52 0,26
Budistas  0,007 (0,0%) 0,80 (0.1%) 4,84 1,76
Hindus  0,186 (0,2%) 0,78 (0,1%) 1,44 0,43

        

À primeira vista, a demografia religiosa da América Latina não mudou muito no decurso do último século. O cristianismo manteve sua presença tradicional, tal qual uma religião quase hegemônica. Ao mesmo tempo, os demais movimentos religiosos e as religiões, embora tenham se expandido fortemente, continuam minoritários.

Na América Latina, o número de agnósticos e ateus cresceu muitíssimo no último século. O espiritismo teve um novo impulso, especialmente no Brasil.

A presença de judeus cresceu inesperadamente depois do Holocausto. Entre as novas religiões, a Fé Baha’i apresentou-se como a religião com maior e mais rápido crescimento no continente.

Em troca, chama a atenção o caso excepcional das religiões indígenas – já bastante minoritárias –, que diminuíram consideravelmente em favor do catolicismo e do protestantismo.

Uma comparação das médias estatísticas de 2000-2010 com as de 1910-2010 revela, no começo do século XXI, um declive considerável de 37,5% no crescimento médio da população do subcontinente. Apenas o cristianismo manteve seu ritmo de crescimento “biológico”. As demais religiões, assim como os agnósticos e os ateus, sofreram um considerável retrocesso relativo. Em contrapartida, nessa década, e em contraste com o que se passou no século XX, as religiões indígenas vêm mostrando um crescimento explosivo.

2.1 O cristianismo na América Latina

Quadro I.2.1.1 Demografia do cristianismo na América Latina

(Em milhões) 1910 2010 * **
População da América Latina 78,2 593,69  2,05 1,28
Cristãos 74,4 549 2,02 1,27
Católicos 70,6 478  1,93  0,78
Protestantes 1,09 57,1 4,04 2,52
Anglicanos 0,8 0,89 0,11 0,50
Igrejas independentes  0,034  41,08 7,37 1,76
Ortodoxos  0,008 1,06   4,99 2,38
Cristãos minoritários  0,004 0,011  8,13 2,66

                            

Entre 1910 e 2010, na América Latina, a porcentagem global da presença do cristianismo se manteve. O catolicismo continua com sua posição dominante.

Ao mesmo tempo, houve mudanças quanto à composição interna do cristianismo latino-americano. Os protestantes (sobretudo os pentecostais e os evangélicos) e as igrejas independentes ocuparam espaços consideráveis. Mas, apesar do crescimento e da vitalidade do movimento carismático, o catolicismo não conseguiu manter seu crescimento relativo. Tampouco as Igrejas independentes, os ortodoxos e os cristãos minoritários conseguiram assegurar seu crescimento “biológico”.

Quadro I.2.1.2 Demografia do cristianismo na América Latina por regiões

Cristãos em: 1910 2010 * **
América Latina 74,7 (95,2%) 548 (92,5%)  2,02 1,27
Caribe 7,9 (97,7%) 35,3 (83,6%) 1,5 1,18
América Central 20,5 (99,0%) 147 (95,5)  1,99 1,24
América do Sul 45,9 (93,1%) 366 (92,1%)  2,1  1,3

                     

No século XX, o cristianismo diferenciou-se nas diversas regiões da América Latina. O Caribe foi onde ele menos cresceu. O reconhecimento oficial da religião vudu, no Haiti, favoreceu seu notável crescimento. Cuba fomentou o crescimento do agnosticismo e do ateísmo, porém, na última década, seu regime político permitiu da mesma forma um notável ressurgimento do cristianismo, especialmente do catolicismo e do protestantismo. Como no Caribe, América Central, a migração massiva, tanto interna como externa, foi um fator importante de diversificação interna do cristianismo.

O cristianismo manteve-se melhor na América do Sul. Contudo, notou-se uma diminuição dramática das religiões indígenas (de 5,1% da população, em 1910, para 0,6%, em 2010).

Na América Central e na América do Sul, a presença demográfica relativa do cristianismo pouco mudou. Contudo, ao mesmo tempo, produziram-se mudanças internas significativas graças ao crescimento impressionante das igrejas protestantes, independentes e minoritárias e, no catolicismo, do movimento carismático.

O Uruguai, com sua tradição de agnosticismo e de ateísmo, continua sendo o país menos cristão.

Notas:

1 BARRET D. B.; KURIAN, G. T., JOHNSON, T. M. World Christian Encyclopedia. Oxford University Press, Oxford, 2001, 2 vols. Ver: DAMEN, F. Panorama de las religiones en el mundo y en América Latina. In AGENDA LATINO-AMERICANA MUNDIAL. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 36-37.

2 JOHNSON, T. M.; ROSS, K. R. (Orgs.) Atlas of Global Christianity: 1910-2010. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2009, p. 361. Status of Global Mission, 2010. In Context of 20th Centuries. In International Bulletin of Missionary Research, 34/1, 2010, p. 36.

Franz DAMEN

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