POR UMA ALIANÇA DA HUMANIDADE PELA VIDA

 

                                  Jonathan Félix de Souza

Uma grande marca desse tempo que vivemos é a rapidez das

mudanças. Sobreviver nesse cenário é lutar contra um modelo de sociedade

que se configura pelas tecnociências, exigindo que estejamos cada vez mais

hiperconectados e globalizados. Esse modelo acelerado tem sido nomeado

como “Revolução Industrial 4.0” ou “Sociedade do Conhecimento”. Um dos

seus limites é que, nele, as máquinas têm cada vez mais ocupado o espaço

dos humanos, e o capital tem atuado de forma avassaladora.

Esse modelo tem apresentado um grande risco para a humanidade, pois

a exploração dos recursos naturais, a rapidez e dinamismos desenfreados, se

não forem controlados, destruirão o planeta. Em curto prazo, podemos dizer

que o ser humano está criando uma situação insustentável, um projeto de

morte que reforça a competição e o individualismo, tanto entre grupos, como

entre países. Esse padrão destrói cotidianamente a vida, reforçando o

egoísmo.

Toda a crise que estamos passando é indicativo de que as prioridades

da humanidade estão invertidas. As decisões sobre o futuro têm se

concentrado nas mãos de poucos, que mantêm o controle do capital global e

estão em luta entre si por mais poder e maior enriquecimento. Colocam o

direito de todos os seres vivos (humanos, micróbios, plantas, espécies animais)

em segundo plano. O sistema econômico se tornou global e tudo se tornou

mercadoria e passível de ser privatizado, inclusive as formas de vida.

Quem representa os seres vivos? Quem fala em nome deles? Perguntas

como essas provocaram pessoas de todo os lugares do planeta, que tem se

organizado e proposto uma aliança pela vida, demarcando seu campo de

atuação ao lado das/os oprimidas/os.

Em 2018, cerca de 200 pessoas, mulheres e homens da África, América

Latina, Ásia e Europa, que se encontraram em Sezano (comunidade próxima

de Verona/Itália) fizeram uma aliança da humanidade pela vida: uma aliança

ousada que se chama Ágora e tem como proposta organizar ao lado da ONU

(organismo de governos) uma OMHU, Organização Mundial da Humanidade

Unida.

Essa aliança propõe um percurso comum de conscientização e de

reconhecimento da humanidade como sujeito ator do futuro ecointegral (socialcultural, político, ecológico e econômico) da vida da Terra e sobre a Terra.

Juntos/as iniciamos uma “Constituinte Permanente” que traz três princípios

fundadores e caminhos constituintes:

  1. Um futuro da vida na erra aseado nos prin pios de que a vida

sagrada e gratuita e de que a humanidade respons vel por ela

  1. Erradicar os fatores estruturais que geram desigualdade, visto que a

po reza e a ex lusão são o prin ipal “rou o de vida”

  1. Substituir a lógica da guerra pela lógica da segurança coletiva e a

distribuição do poder entre todas/os as/os habitantes da Terra

(diretamente entre humanos e através de representação em nome da

Humanidade)

Essa aliança propõe que devemos trabalhar para:

 Abolir as patentes privadas de organismos vivos e inteligência artificial;

 Criar um Conselho de Segurança dos Bens Públicos Mundiais;

 Proibir os paraísos fiscais, os derivativos e as transações financeiras

de alta frequência;

 Criar o Banco Mundial Público, sob a autoridade do Conselho de

Segurança Monetária Mundial, para sustentar o Pacto da Humanidade,

sem endividamento e usura.

 Promover sistema econômico que sirva à justiça social;

 Lutar para que a água seja reconhecida como Bem comum e nunca

possa ser comercializada e privatizada;

 Banir de vez a guerra. Ratificar o Tratado de Proibição de Armas

Nucleares assinado por 122 países da ONU em julho de 2017;

 Criar um Parlamento planetário, encarregado da tarefa de orientar as

ações comuns essenciais e urgentes para restaurar a saúde da Terra,

em nome e pelos direitos de todas/os as/os habitantes da Terra. Este é

um passo importante para que a Humanidade como tal seja sujeito de

direitos, para além da lógica do sistema das Nações Unidas;

 Estabelecer o Dia das/os Habitantes da Terra (DHT) no dia 15 de

dezembro de cada ano, com o apoio dos Municípios / Coletividades

locais. O Dia das/os Habitantes da Terra terá um objetivo concreto a

alcançar dentro do marco da implementação do Pacto da Humanidade.

É tempo de, para além de discursos, construir outro mundo possível.