Proteccionismo

Proteccionismo

Alfredo J. GONÇALVES


Parece ser a palavra do momento. Primeiro, o gover-no dos EUA apro-vou um subsídio de U$ 70 bi à sua agricultura; depois, veio a reação de alguns governos, entre eles o brasileiro; logo em seguida, o FMI, o Bird e a OMC, num tom sombrio, alertam para o risco de uma nova onda de protecionismo. Os países da Europa não ficam atrás em termos de proteger suas economias em detrimento do liberalismo econômico.

Escancara-se, mais uma vez, a flagrante contradição do sistema neoliberal, especialmente na versão defendida com unhas e dentes pelo governo Bush. Como pode ele, ao mesmo tempo, propor a Área de Livre Comércio das Américas e praticar o protecionismo? A resposta é mais simples do que se poderia pensar: livre comércio, sim, desde que fora de casa, no quintal dos outros; dentro de casa, é preciso proteger nossa economia! Os interesses das empresas dos EUA estão acima de qual-quer acordo, ainda que defendido pelo governo dos EUA.

Tudo isso sinaliza o caminho da ALCA. Os produtos, tecnologia e serviços norte-americanos terão livre cir-cu-lação pelo continente, mas será praticamente uma via de mão única. Os produtos do sul encontraram fortes barrei-ras para transitar no reino do norte. O Brasil e seus vizinhos serão inundados pelos bens su-pér-fluos do con-su-mismo do Primeiro Mundo, mas terá enormes dificul-da-des de vender lá fora sua produção.

Ao todo são 34 países, num mercado nada des-pre-zível de 800 milhões de pessoas, com o Produto Interno Bruto de 11 trilhões de dólares. Mas a concorrência revela-se extre-mamente desleal. A disparidade entre os parceiros é tamanha que é um eufemismo falar de nego-ciação. Como pode o lobo entrar em acordo com o cor-deiro? Qualquer competição entre forças tão desiguais tende a fortalecer ainda mais os poderosos e enfra-que-cer os pequenos. Entre a mais poderosa economia do planeta, os EUA, e as economias fragilizadas dos países latino-americanos, é impossível falar em “livre comér-cio”. E muito menos em soberania nacional!

O que se desenha no cenário é uma verdadeira ane-xação dos países do sul ao bloco do norte. O império visa expandir seu poder econômico ao continente in-tei-ro. Estende seus tentáculos numa política agressiva de neo-colonização, enquanto, para o interior de suas fron-teiras, prega uma política de descarado protecionismo. O mesmo que pretende negar aos outros “parceiros”. Daí a insistência do Plebiscito: Soberania sim, ALCA não.

 

Alfredo J. GONÇALVES

São Paulo, SP, Brasil