Querido Pedro Calsadáliga,
Luis Duarte
Já comecei esse escrito várias vezes e não conseguia terminar. Faltam palavras, sobram lágrimas. Esse é o primeiro, de outros escritos que virão. Ontem reli seus escritos para os/as jovens das Pastorais da Juventude quando escrevia a coluna “Mística” no Jornal Juventude. Em um desses escritos você diz sete traços marcantes da vida de Jesus. Os traços da vida Dele que mais marcam a tua vida. Sem dúvida, os traços que indica do Cristo são os traços que marcam sua vida.
Mas, inspirado nesse escrito, quero escrever sete traços de tua vida que tocam a minha. Sete traços que me tocam e me convocam.
- Fidelidade – Sua vida comunica fidelidade. Fidelidade aos/às pobres e ao Evangelho. Fidelidade ao Senhor e ao Reino. Fidelidade mesmo quando isso significou perseguição. Você foi fiel ao Evangelho e aos/às pobres mesmo quando a estrutura eclesiástica te questionava. Você foi fiel mesmo nas ameaças de morte.
- Martírio – Não é possível falar da memória dos/as Mártires sem falar de ti e do como sua vida ajudou-nos a alimentar essa mística martirial. A memória dos/as mártires seguirá e nós seguiremos. Vamos multiplicar Romarias dos/as Mártires. Quisera eu ter um pouco da mesma paixão e do mesmo compromisso que moveu os/as mártires e a ti.
- Profecia – Você chegou à região de São Félix e encarnou-se na vida desse povo. Tal qual Deus se encarnou na vida. E sua vida, suas ações e suas palavras foram profecia. Sua vida sempre foi pedra de tropeço para os ricos e poderosos. Sua vida sempre incomodou, tanto os governantes como algumas autoridades eclesiais. Sua profecia não era apenas na fala, mas sobretudo nas tuas ações, na tua encarnação na vida do povo. Até tua partida se faz profecia. Vives tua Páscoa no dia em que o Brasil se entristece por 100 mil vidas ceifadas pela pandemia. Até em tua partida, você se une aos/às obres que também estão partindo por conta dessa pandemia e do desgoverno que preside esse país.
- Amor – Na poesia eternizada de sua vida e seus escritos você escreveu: “Ao final do caminho me dirão: - E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes”. Hoje nesse tempo pascal, fico pensando nesses milhões de nomes que saem de seu coração. Fico pensando nos pobres a quem você serviu. Fico pensando nas prostituas que você acolheu sem julgar. Nos indígenas que defendeu. Nos sem voz de quem tu foste voz. Tua Páscoa é sentida por demais, sobretudo por aqueles/as que tiveram a dignidade de suas vidas respeitadas por conta de tua vida. Fico pensando constantemente nos pobres da Prelazia. Penso nesses/a que você amou. Fico pensando nos/as camponeses/as. Fico pensando nos/as índios/as. Fico pensando no Cristo que você enxergou no rosto de cada pessoa com quem se encontrou. Queria ser capaz de amar assim.
- Luta - Jamais poderão falar de sua história sem dizer de sua luta pela vida e dignidade dos/as pobres, camponeses/as, indígenas e sem voz. Sua vida muito representa para as lutas tão necessárias nesses tempos. Sua memória seguirá nos inspirando.
- Poesia – Pedro tu és poeta. Tu sabes. E como poucos, tu descrevestes a Palavra do Deus Amor, Causa e Vida. Jamais falaremos de Pedro sem falarmos de tuas poesias que seguirão animando nossos encontros, abraços e lutas.
7. Esperança – Pedro. Tu és e seguirá sendo o profeta da esperança. Mesmo que não fales nada, tua vida e tua presença e agora tua memória comunicam esperança. Irradiam esperança. Provocam esperança. Convocam à esperança. Motivam à esperança. E sua vida, querido Pedro, devolveu esperança a tanta gente. Sua vida foi como a vida D’Ele, o Mártir Jesus. Você, Nele, com Ele e por Ele, devolveu esperança ao povo. Nele, com Ele e por Ele você transformou muitos sertões em açudes. Faltam alguns sertões, mas essa tarefa agora cabe a nós.
Olho para esses sete traços e me sinto tão pequeno diante de ti e diante Dele. E por isso, peço a ti que me ajude e que ajude-nos a também sermos homens e mulheres de profunda FIDELIDADE, de radical AMOR, comprometidos/as com a LUTA pela vida, POETAS e PROFETAS do Reino, alimentados/as pela MEMÓRIA MARTIRIAL, comprometidos/as com as causas dos/as Mártires e por isso mesmo pessoas de ESPERANÇA e que a devolvem aos/às pobres e sofredores/as. Obrigado por tanto Pedro. Ajude-me a ser capaz de amar um pouco como você amou e ama. Continue a olhar pelos/as pobres de nossa Casa Comum.
Dê um abraço no Hilário Dick, por favor.
Abraços pascais,
Luis Duarte
Publicado no Blog Cajueiro: https://cajueirocerrado.blogspot.com/2020/08/uma-carta-para-pedro-do-luis-duarte.html
O Testemunho de Pedro Casaldáliga nos desafia:
- Leia as mensagens e poemas que falam de Pedro – tanto os que estão nesta sessão, como de outros de seus escritos.
- Ao ler, destaque as passagens que mais o tocam...
- Com elas, elabore um testamento, que inspire sua prática.