Saúde é justiça social

 

Vivian Camacho

A pandemia da Covid-19 evidencia, de maneira direta, a situação atual de Mercantilização da Saúde e Vida no planeta. A partir da medicina acadêmica monocultural hegemônica dominante, padecemos a desumanização e os confl itos de interesses corporativos que, descaradamente, prevalecem o lucro sobre a vida humana.
A Saúde, nas mãos da ganância corporativa – complexo médico-industrial, complexo fármacoquímico,
complexo agro-alimentício-industrial, complexo bélico-armamentista; todos estão associados com o mesmo fi m: poder econômico. Nunca resolveram o problema da fome com a “revolução verde”, com isto, nos deixaram o solo, a água e o ar envenenados com agrotóxicos e semente transgênica infértil; não lhes interessa sanar as enfermidades do mundo, ao contrário, é conveniente gerar consumo ilimitado e dependência de produtos químicos que eles produzem (recordemos que a Bayer tem comprado a Monsanto), pelo qual necessitamos refl etir nossa forma de construir saúde a partir dos territórios, a partir das realidades de racismo e injustiça social
estrutural contra os mais humildes do mundo.
A noite neoliberal, todavia, tendo o fascismo como bandeira, ameaça a vida de todas as criaturas; porém nossos povos já sabem, a partir da espiritualidade ancestral viva em nossos territórios, que já está amanhecendo; que o novo tempo traz dignidade e justiça social. É tempo de fl orescer dos povos. A claridade do Dr. Ernesto Guevara acompanha este mesmo caminho: “a primeira enfermidade quedeve se erradicar é a injustiça social”.
A saúde vem da Mãe Terra, desde o Sumaq Kawsay, como proposta das comunidades indígenas originárias campesinas, emerge um novo paradigma civilizatório, para superar o sistema mercantil totalitário global, que tudo transforma em mercadoria. O capitalismo em crise tem gerado destruição dos ecossistemas, fome, dor e morte para a humanidade. Por isso mesmo, essa necropolítica econômica deve transformar-se, desde o individualismo niilista até uma economia solidária que cuida da vida. A humanidade não é culpada das crises, muito menos das catástrofes ambientais, dado que apenas 1% detém o máximo poder econômico sobre o resto, que somos 99%. Isso evidencia que a absurda ganância desenfreada desse 1%, que acumula riqueza que nem sequer concebemos
imaginar, dentro desse sistema neoliberal capitalista, que lhes dá lugar, é a responsável da atual crise
civilizatória que está envenenando territórios inteiros, milhões de enfermos e desalojados por causa da depredação capitalista.
O sistema colonial, patriarcal e racista continua impondo-se com os meios massivos, vendidos aos donos do mundo, promovem uma cultura vazia que se enche, comprando todo tipo de absurdo que propõe o mercado que usa e retira milhões de produtos e alimentos, para manter seu custo elevado. A vida de plástico que oferece essa liberdade de mercado, tem chegado ao extremo de se ter ilhas de plásticos fl utuando no mar; partículas de plástico dentro da água e do ar em vários países; gente de plástico, que imagina que pode comprar seus direitos e sustentar o fascismo supremacista branco, com petulância e violência, porque tem dinheiro e que, o resto, somos
simples cativos nesse jogo macabro.
Pese, a este desequilíbrio perverso global, milhões de povos humildes estão tomando força, desde sua organização comunitária; a força de ser, juntos, comunidade, sabendo que juntos é possível proteger a vida e os territórios da depredação corporativa. Muitos movimentos elevam sua voz a partir da identidade cultural ancestral, recordando a força dos povos indígenas, originários, camponeses e afrodescendentes que, depois de séculos de
submissão, seguimos de pé, fi rmes, seguimos nascendo para resguardar a vida comunitária, para semear e colher, com amor agradecido, os frutos de nossa Mãe. Para compartilhar com todos, solidariamente, tudo o que esta terra abundante nos presenteia. 
A solidariedade dos povos tem sido parte do sustento e cuidado durante a quarentena, comunidades organizadas para as cestas comuns, para saciar a fome dos mais humildes, graças às doações de toneladas de alimentos produzidos pelos camponeses, que sabem que o carinho da Mãe Terra alcança a todos. Esta reciprocidade amorosa e solidária é parte dos saberes ancestrais, que, ainda cuidam de nós, porque é a memória profunda que recorda que somos criaturas nascidas de uma mesma Mãe, Pachamama.
Com a sabedoria ancestral viva de nossos povos, com a medicina tradicional ancestral, que é nossa
resistência cultural, parte da luta descolonizadora anticapitalista, temos a força de nossos ancestrais que, com suas vidas, semearam este largo caminho na história, para que, hoje, recuperemos nossas raízes, nascidas do coração da Mãe Terra. Cada pessoa que tem semeado suas lágrimas e sua vida, na causa justa da dignidade humana, tem se multiplicado em milhões de sementes novas, que viemos para florescer a terra.
Cada um de nós representa, hoje, o sonho mais belo das gerações passadas, portanto, somos portadores da força maior necessária para girar a história em favor dos povos humildes do mundo, respeitando a diversidade cultural e cuidando da biodiversidade. Sabendo que somos pequenos, mas somos milhões, esta força de milhões está
transformando o mundo, desde as lutas locais que, somadas ao tecido global, nos mostram que é urgente participar na vida com respeito e carinho, sendo comunidade. Não é um nome nem um título, é a força coletiva que bate dentro de nós: “somos juntos, juntos somos fortes”.
Porque a capacidade da Alegria, Beleza e Justiça fazem parte de nosso chamado e compromisso com o nascimento de um mundo mais digno, mais livre, mais solidário, pela vida digna dos povos: “Saúde é
Justiça Social”.
Madre Tierra nuestra primera fortaleza 
Con tu latido de temblor, nacen las semillas y brotan las fuentes de agua / Con tu sonrisa de primavera, florecen los campos y reverdecen las montañas / Con tu dulzura de fruta madura, se forja el corazón humano / Con tu llanto en la lluvia, se limpia la tristeza del mundo / Con tu abrazo de viento, te escuchamos respirando / Con tu abrazo de fuego en los volcanes, la ira se hace grito de justicia / Con tu abrazo de mareas intensas, podemos
transformar todo el dolor

Madre Tierra, Pachamama somos tus brazos y tu voz / Mujeres de vientres que paren humanidad, sueños y futuro / Como vos misma, hemos sufridola violencia de siglos / La humillación dentro de un sistema capitalista brutal contra la vida / Como vos misma somos valientes, pese a todo el dolor / Renacemos abrazando la comunidad desde nuestra  anncestralidad / Como vos misma, volveremos enterradas a tu vientre / Y tu amor nos hará semillas
de una humanidad plena de amor por la vida / Somos la Fuerza Femenina / Somos Pachamama / Somos
paridoras de estrellas y vida digna de los pueblos.
Mãe Terra, nossa primeira Fortaleza 
Com teu batimento trêmulo, nascem as sementes e brotam as fontes de água; / Com teu sorriso de
primavera, florescem os campos e enverdecem as montanhas; / Com tua doçura de fruta madura, forja
o coração humano; / Com teu choro na chuva, limpa a tristeza do mundo; / Com teu abraço de vento, te escutamos respirando; / Com teu abraço de fogo nos vulcões, a ira se faz grito de justiça; / Com teu abraço de marés intensas, podemos transformar toda a dor,
Mãe Terra, Pachamama, somos teus braços e tua voz, / Mulheres de ventres que parem humanidade, sonhos e futuro. / Como você mesma, temos sofrido a violência de séculos, / A humilhação dentro de um sistema capitalista brutal contra a vida. / Como você mesma, somos valentes, apesar de toda a dor, / Renascemos abraçando a comunidade de nossa ancestralidade. / Com você mesma, voltaremos enterradas em teu ventre / E teu amor nos fará sementes de uma humanidade plena de amor pela Vida. /
Somos a Força Feminina,
Somos Pachamama,
Somos parteiras de estrelas e vida digna
dos Povos.