TECENDO APRENDIZAGENS A PARTIR DA AUTONOMIA TECNOLÓGICA

 

Norma Esperanza Melara Méndez

Ao escrever o presente artigo trago a minha memória o desenvolvimento do Congresso On-line de Educação Popular e Tecnologias Livres organizado pela Universidade Popular em outubro de 2022.  Precisamente o título desta leitura refere-se a uma atividade paralela ao referido congresso, realizada virtualmente a partir da Universidade Popular, na qual se recolheram frutos sobre a diversidade de experiências entrelaçadas no universo de escolas de redes comunitárias e Comunidade Techio.

Encantou-me o material que trabalhamos na atividade paralela. Na mesa da qual fizemos parte apresentaram-se diferentes experiências de países do Sul global, em torno da ideia de tecer autonomia tecnológica a partir do desenho e implementação de processos de formação a partir da educação popular e metodologias participativas.

Tais experiências são compostas por organizações do Brasil, Indonésia, Quênia, Nigéria, México e África do Sul,  que fazem parte do desenvolvimento das Escolas Nacionais de Redes Comunitárias, como parte do projeto Local Networks (Loc Net), um esforço coletivo liderado pela Associação para o Progresso das Comunicações (APC) e Rhizomatica.

Estas escolas têm como antecedente o programa “Techio Comunitário”, enfocado na formação de promotoras e promotores técnicos em telecomunicações e radiodifusão, o qual está dirigido a pessoas pertencentes a povos e comunidades indígenas do México e outros países de América Latina, cuja experiência foi sistematizada na publicação La autonomía tecnológica como constelación de experiencias: Guía para la creación e implementación colectiva de programas de formación para promotoras y promotores técnicos comunitarios (APC, 2021).

No referido guia se desenvolve a primeira pergunta geradora: Por que é importante considerar a educação popular ou o uso das metodologias participativas nos programas de formação utilizados nas diversas comunidades com as quais trabalham?

As organizações vinculadas com a comunicação comunitária e aglutinadas em PSA no Brasil, adotaram e adaptaram a metodologia de Paulo Freire à realidade da selva do sistema socioeconômico vigente.  Estas organizações trabalham há mais de trinta anos sem energia elétrica e conectividade, o que gera uma sabedoria do bem viver. Na apresentação se menciona que a contribuição deve ser aprimorada a partir da experiência das comunidades e das pessoas de diferentes formações sobre comunicação, telecomunicação e informática, mas também trabalham em desenvolvimento integral das comunidades. A internet pretende ser esse poço de água, no qual pessoas jovens e pessoas maiores de idade podem se capacitar, de tal forma que se sintam à vontade com as tecnologias e a formação se reproduza em outras comunidades. Assim, seria possível criar um movimento que contribua para melhorar o nível educativo na região tendo presente o princípio norteador da alegria e participação. As organizações brasileiras trabalham a abordagem conhecida como educologia, baseada na riqueza natural do entorno apresentando-a de forma criativa.  

A organização Zenzeleni (“Faça você mesmo”, no idioma isiXhosa) da África do Sul apresenta as vozes que não são ouvidas, que não tem acesso a uma plataforma. Ao projetar escolas para redes comunitárias, avalia-se se o programa tem aspectos que poderiam afetar as e os estudantes, em cujo caso os conteúdos do programa são alterados, para assim poder atender o que é importante para os estudantes. Mas, sobretudo, para encontrar suas vozes, atendendo plenamente as suas necessidades. Tem uma imagem muito interessante que os integrantes de Zenzeleni apresentaram sobre o método participativo. A referida imagem se relaciona com plantar uma árvore em um vaso (de flores): já que a planta não consegue criar raízes profundas, não vai desenvolver-se plenamente. Em contrapartida, se é um processo participativo, precisa levar em conta onde vai semear, já que as pessoas das comunidades participam dessa tomada de decisões. É importante ser inclusivo na fase de implementação de projetos, colaborar com as pessoas que tem o menor nível e ajudá-los a chegar ao objetivo.

Como se alcança o que foi exposto anteriormente? Criando confiança e motivando as pessoas, já que a aprendizagem não se concentra unicamente em desenvolver habilidades. Portanto, é necessário todo um povo para motivar a juventude.

Por outro lado, a experiência que tem sido realizada na cidade de Nairobi, Quênia, se refere ao modelo investigativo sobre a construção de capacidades. A participação da comunidade é vital na construção do cenário e é um valor fundamental a seguir.

É importante compreender as diferentes realidades vividas pelos membros das comunidades. Algumas das áreas que procuram ampliar as redes comunitárias, por exemplo: promoção de direitos, geração de propostas, etc. Na construção de capacidades, ao planejá-las tem que pensar como impactar estas comunidades, o que se faz é pensar em um elemento participativo que gere empoderamento, pois sabem o que querem alcançar.

Na Nigéria, o Centro de Tecnologias da Informação Comunitária entende que o método participativo gera um sentimento de pertencimento à comunidade. Deve-se gerar nas comunidades um maior senso de responsabilidade, à medida que sabem que são  protagonistas dos projetos que desenvolverão.

Existem muitas redes comunitárias na Nigéria, com as quais se realizam networking. Um dos problemas que enfrentam é a falta de conectividade.

Nas escolas se promove o conhecimento das novas tecnologias, o que potencializa a participação, a sinergia, a compreensão, etc. Os atores compreendem que precisam promover mais incidência.

O tema de gênero é importante e promover uma maior participação das mulheres para que elas se sintam participantes do seu espaço.

Recomendo a leitura do guia La autonomía tecnológica como Constelación de experiencias, mencionado anteriormente, o qual foi construído partindo de cada comunidade e povos, pois é importante promover diversidade de histórias. Com ele se tem presente que as redes comunitárias são processos organizacionais a favor dos sonhos, dos desejos das comunidades. Este guia propõe a pesquisa-ação participante. Em primeiro lugar, entender quem participa do cenário e aplicar o método Ver, Julgar, Agir e Avaliar.

Fiquei muito entusiasmada com tudo que o Congresso de Educação e Tecnologias Livres promoveu. Por isso, me comprometi em continuar pesquisando sobre o software livre e em aprofundar na filosofia, para chegar às comunidades rurais com as quais estamos trabalhando.

A weblibre.org afirma em seu início o seguinte:

É um espaço que surge a partir da necessidade de difundir e facilitar o acesso às ferramentas e plataformas virtuais baseadas no software livre. Neste diretório você poderá encontrar diferentes projetos comunitários criados por pessoas usuárias e ou coletivos, os quais se constituem como alternativas livres às redes monopolizadas e privadas que dominam a internet  (weblibre.org, s/f).

 

Assumo como minha a seguinte frase da weblibre.org: “Construamos resistências coletivas frente ao capitalismo da vigilância! Por uma web livre para comunidades livres” (weblibre.org, s/f).