Tezontepec de Aldama: a defesa da terra e da vida
Izolda
A comunidade indígena de Tezontepec de Aldama, situada em Hidalgo, na zona
norte da capital do país é, segundo a ONU (2005), a zona mais contaminada do mundo,
devido aos resíduos e rejeitos tóxicos de mais de 5800 empresas nacionais e multinacionais
que se instalaram ali. Foi retirada de seu território comunal, que ocupa 1899 hectares, e
onde se encontra o maior lençol freático da zona central do México, no Vale do Mezquital.
No ano 2002, motivadas pelo elevadíssimo aumento de casos de câncer em
meninas, meninos e adultos e além das enfermidades relacionadas à contaminação do meio
ambiente, iniciamos a luta contra as empresas que contaminam nossa comunidade, também
com o objetivo de recuperar as terras que o governo nos tirou.
Para entender minha viagem e a dos meus companheiros e companheiras e todos
estes anos de luta, vou falar-lhes da minha comunidade.
:
Comunidade Agrária de Tezontepec de Aldama
Eu venho de uma comunidade agrária no sudeste do estado de Hidalgo, próximo da
cidade de Tula, onde se encontra o município de Tezontepec de Aldama. Esta região do
Vale do Mezquital destaca-se por duas situações específicas: sua agricultura intensiva, com
altos níveis de produtividade de alguns produtos, conseguido graças à grande quantidade de
água no seu aquífero e à contaminação desses aquíferos em níveis extremos.
A contaminação é gerada, basicamente, pelas águas poluídas que chegam da Cidade
do México e da zona metropolitana, conduzidas até a bacia do rio Tula, para chegar à
barragem Endhó, que se encontra a apenas 15 minutos de Tezontepec: "já houve muitas
reportagens, discursos e todo um descaso sobre a contaminação da bacia, porém, os
paliativos que deram como resposta foram, somente, juntar os plásticos e esse tipo de
coisas. Porém, a água leva muitos metais pesados, leva arsênico, leva uma infinidade de
coisas que danificam o ambiente de tal maneira que muitas organizações nacionais e
internacionais admitiram que é uma das zonas mais contaminadas do planeta, ao grau de se
espantarem, sem conseguir entender como existe vida aqui, o que significa que os
parâmetros estão rebaixados ao extremo, foram rebaixados de maneira exponencial, todos
os parâmetros suportáveis para que haja vida humana, no entanto, há indivíduos", me referi,
como uma de suas autoridades agrárias.
Além das águas poluídas, há outras fontes de contaminação: a termoelétrica, a
refinaria e as empresas de cimento (Cruz Azul, Lafarge, Apasco), que anualmente emitem
milhares de toneladas de enxofre, carbono e demais tóxicos, na água e no ar. Os ventos
dominantes nesta região transcorrem de norte a sul, sendo conduzidos para a zona
metropolitana da Cidade do México; portanto, esta região contribui com pelo menos 30 por
cento da contaminação do vale do México.
Na comunidade dizemos: "Nós, em nossa luta, somos agradáveis com todos, é uma
luta de cinco comunidades do município de Tezontepec de Aldama, muito regional. Porém,
de nossas terras se tira a água que move a refinaria, a Pemex e todas essas empresas e, em
troca, nos pagam com pura contaminação”.
Casos como a anencefalia, o câncer e o aumento exponencial de problemas renais
em crianças de todas as idades, que continuam sendo detectados, assim como abortos
espontâneos e nascimentos prematuros, e todo tipo de padecimentos que nos levam a uma
má qualidade de vida, sendo muito difícil para os pais terem acesso à atenção médica
especializada, porque, além do mais, o centro hospitalar de Cinta Larga carece do mais
elementar para um serviço médico integral ou especializado.
A partir disso, colocamos maior interesse na luta contra a contaminação
indiscriminada e, ao mesmo tempo, na luta contra o poder econômico do próprio sistema e
das empresas, pois são 80.000 hectares do Vale do Mezquital que se irrigam com essas
águas contaminadas e tudo quanto se produz é vendido e consumido na zona central do
país.
O Conflito da Comunidade Agrária de Tezontepec de Aldama, Hidalgo, México
A conflitividade existente se explica pela intenção de recuperar o prédio
denominado Cinta Larga, nos limites do município de Tezontepec de Aldama e do vizinho
município de Mixquiahuala no estado de Hidalgo, ao norte da Cidade de México, na região
conhecida como Vale del Mezquital.
A fazenda de 1899 hectares da terra comunal indígena hñáhñu (otomí) de
Tezontepec de Aldama, é propriedade dessa comunidade, foi outorgada por Dom Luis de
Velazco ao povo de Tezontepec no ano de 1693 e, atualmente, está sob custódia ilegal do
governo do Estado de Hidalgo.
O conflito nasce porque, desde 1993, os diversos governadores do Estado de
Hidalgo, cada um no seu mandato, tiveram sob custódia estas terras, através de uma relação
de confiança com diferentes povoadores de Mixquiahuala e Tezontepec, simpatizantes dos
governadores em exercício. Estas terras são de cultivo de alta qualidade para semear
hortaliças (alfafa, milho, trigo, aveia, etc.). Do mesmo modo, os poços de água são
comercializados com as indústrias vizinhas, e as minas de materiais arenosos são utilizadas
para sua venda a megaprojetos como o que se projetou como Novo Aeroporto da Cidade do
México.
Durante este longo caminho, fizemos coisas propositivas, trabalhando desde as
bases e em todos os níveis aos quais nos foi possível chegar; para isso formulamos
estratégias e fóruns:
Estratégias e fóruns
Dentro de nossa luta, também desenvolvemos estratégias e fóruns denominados
“Não à destruição de Hidalgo”, nos quais demos a conhecer as problemáticas do meio
ambiente e criamos iniciativas para descontaminar, dentro do possível, nosso entorno.
Por outra parte, propiciamos o estreitamento com ONGs e especialistas em direitos
humanos e meio ambiente para capacitar-nos e, ao mesmo tempo, capacitar nossa gente.
E, na iniciativa “Água para todos e todas, água para a vida”, encontramos uma
forma de coordenar, em nível nacional, todas as lutas a favor de território e água, na qual
nos apoiamos e avançamos nessa luta de descontaminação e recuperação dos canais e rios.
Fazemos brigadas de limpeza ao longo dos leitos dos rios, com intenção de retirar a maior
quantidade possível de lixo e contaminantes, e levamos informação às comunidades sobre a
contaminação e os prejuízos que geram os pesticidas e todos aqueles químicos
agroindustriais.
Ainda que nos falte muito por fazer, o que já conseguimos é ter soberania alimentar
por meio de hortas ecológicas de transição; com isso, obtivemos colheitas sãs para o
consumo comunitário e recuperamos sementes crioulas, já que nos opusemos aos
transgênicos.
Nós olhamos para o futuro com a esperança de afrontar os novos desafios que nos
esperam, entre os quais se destacam três:
DESAFIOS
O primeiro desafio é conseguir que as empresas implementem um sistema para
tratar as águas residuais, antes que escoem em nossos rios e gerem maior contaminação.
Por esse motivo, requeremos de todos os apoios possíveis, nacionais e internacionais, que
fomentem a consciência de um consumo responsável e de proximidade, e que se denuncie
em voz alta aquelas empresas que violem os direitos humanos e meio ambientais, e se
implementem mecanismos eficientes de fiscalização e punição, por meio de tratados
internacionais vinculantes entre empresas e direitos humanos.
O segundo desafio é que, recentemente, estamos trabalhando em um projeto para
fazer uma Universidade Rural. Por isso, nos reorganizamos legalmente na luta para
recuperar as terras comunitárias, que é onde queremos criar a Universidade. Essa
Universidade pode servir para melhorar nosso sistema agroalimentar e trabalhar para
recuperar as sementes crioulas, a vegetação e a fauna nativas de nossa região. E também,
para combater a contaminação, que se especialize no estudo da descontaminação do ar, solo
e subsolo.
Também, seria muito importante oferecer atividades e trabalhar na recuperação das
línguas e dos usos e costumes indígenas. E dar oficinas de formação sobre saúde
comunitária e da mulher.
Por último, a universidade deve ter uma Escola de Cultura de Paz, para alcançar um
processo de paz que reconcilie nosso entorno social e meio ambiental, onde possamos
aprender e ensinar sobre direitos humanos, dos povos indígenas, de gênero e meio
ambientais. Para isso, já temos a doação de um edifício e estamos buscando apoios
nacionais e internacionais para dar-lhe forma e conteúdo.
O terceiro desafio é meu desafio pessoal: recuperar minha vida, curar e tirar o
melhor partido de cada uma das experiências que, por mais dolorosas e amargas que sejam,
jamais farão com que me arrependa de dar voz aos que estão em silêncio e de tocar temas
que para muitos não existem, mas estão aí e necessitam que os coloquemos à luz.