TTIP: ditadura das multinacionais

TTIP: ditadura das multinacionais

Javier Lezaola


Assiti um vídeo em que uma espécie de vírus, composto pelos logotipos das multinacionais que possuem cotas nas principais bolsas de valores do mundo, ia devorando, sucessiva e implacavelmente, com um fundo musical composto por um zumbido preocupador, as bandeiras de uma série de nações, até que todas estas bandeiras se tornassem pretas. Junto a essa tela, outra mostrava um futuro preocupante em que todos os exércitos do mundo capitalista defendiam diretamente – e não só indiretamente, como hoje em dia – as grandes corporações empresariais. As forças armadas dos países foram substituídas pelo exército de certo banco ou de tal petroleira. Haviam passado do estágio de democracia dos mercados a uma futura ditadura das multinacionais.

Pensei logo em seguida que tudo aquilo eram bom exemplos do que o Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento, tratado de livre comércio negociado pela Comissão Europeia – em nome dos estados membros da UE – e o Governo dos EUA, a portas fechadas. Sem oferecer aos parlamentos nacionais os textos negociados e dificultando o trabalho de controle do próprio Parlamento Europeu. Isso porque o principal objetivo do TTIP neoliberal é do de precisamente transformar em realidade um velho sonho das elites dominantes: transferir poder político das instituições europeias – de âmbito autônomo, estatal e continental – às multinacionais. Em outras palavras, conceder um poder ilimitado às grandes corporações empresariais, eliminando os poucos obstáculos legais e burocráticos que ainda existem a sua liberdade de explorar o trabalho assalariado e precarizar os direitos e as condições de vida dos trabalhadores.

Há duas possibilidades para o TTI: ser aprovado, como a NAFTA, ou não ser aprovado, como a ALCA. A aprovação da NAFTA, que representou para a oligarquia mexicana uma oportunidade de negócios, representou para os trabalhadores – especialmente para camponeses indígenas – a ruína. Trata-se aqui da opção entre a democracia dos povos ou da ditadura das multinacionais.

O que os EUA apresentam como convidativos e inofensivos tratados de livre comércio são, na verdade, instrumentos de desregulamentação do mercado para garantir liberdade das movimentações financeiras e maior lucratividade para as grandes corporações empresariais, ao custo de precarizar até o ponto de ruptura dos direitos e condições de vida das classes populares. A democracia dos povos ou a ditadura das multinacionais.

 

Javier Lezaola

Eldiario.es