Um catolicismo mais do que europeu

Um catolicismo mais do que europeu


Referindo-se à oportuna distinção entre ortopraxis (o mais importante) e ortodoxia (o essencial), nestas linhas eu me deterei somente na primeira, embora não tivesse que separar ambas as coisas (Mt 23,3).

O mais importante é a disponibilidade para nos abrirmos a uma renovação radical, a uma nova época na história cristã. O “progresso” não pode continuar, e o “regresso” não é possível. Se nos referimos particular-mente às Igrejas, poder-se-ia dizer que não só há de ser reformada, senão transformada. Esta trans-for-mação equivale a uma morte e a uma ressu-rrei-ção. (“Se o grão de trigo não morre...”, Jo 12,24). O terceiro milênio exige uma metamorfose de uma Igreja ligada até agora a um só filão religioso-cultural. Uma Igreja católica deve superar a ideologia do monoculturalismo (essência do colonialismo). Isto implica a audácia da kénosis: a Igreja disposta a se converter em sal e não em alimento à humanidade. Três quartas partes da humanidade não pertencem ao filão de Abraão.

No terceiro milênio a maioria dos crentes não per-tence à Europa e , por conseguinte, sente a vestidura cultural e dogmática cristã como um peso que não vem de Cristo, senão da dependência que a Igreja tem da história européia, que forjou até hoje a teoria e a práxis do cristianismo. Além disto, também as novas gerações européias perderam a cosmovisão que subjaz à teoria e práxis da Igreja.

Assim, pois, me compraz afirmar que “o mais im-por-tante” é nos libertarmos do peso da história da cristan-dade – com seu grandioso ideal jurídico, monárquico (globalizador) e conceitualista, que vai desde a estrutura eclesiástica até sua práxis que corresponde à Igreja pós-constantiniana.

Isto exige que nos emancipemos da rígida abso-lutização dos dogmas como se estivessem acima de toda cosmovisão e não estreitamente ligados a uma cultura que não pode abrigar a pretensão de ser universal.

Esta metamorfose não destrói a “tradição” , pelo contrário, engrandece-a precisamente porque transmite-a de uma forma viva e compreensível ao nosso mundo constantemente em transformação.

O mais importante consistiria portanto na simpli-fi-ca-ção evangélica do cristianismo entendido como doutrina. Cristo transmite acima de tudo Vida (Jo 10,10).

Texto completo, em: http://latinoamericana.org/2003/textos