Uma Prática Espiritual para hoje: caminhar pelo labirinto
Mary Judith Ress
Não há dúvida que estamos vivendo em meio a uma múltipla crise planetária. Ao mesmo tempo, sentimos que estamos frente a uma grande mudança evolutiva que está ampliando a consciência humana sobre novas percepções, sobre quem somos e quem poderíamos ser em nossa contínua transformação como homo sapiens. Estamos andando dentro de uma complexa e imensa mudança paradigmática. Parece que os fundamentos filosóficos pelos quais organizamos a realidade já não nos sustentam. A família humana está sendo esmagada pelo individualismo, o patriarcado e uma mentalidade mesquinha de concorrência. Hoje em dia, a depressão é quase uma pandemia - que pode se manifestar em muita ansiedade e estresse ou pior: pode causar vícios, obsessões de todo tipo e até violência com entes queridos e consigo mesmo.
No entanto, sabemos que o ser humano em si é um ser com um grande anseio: o anseio pela conexão, a pertencer (à tribo, à comunidade, à família, à Mãe Natureza). Queremos viver uma vida de sentido, plenitude, de poder dizer, ao final de nossos dias, "consegui".
Talvez uma maneira de nutrir nosso sentido de pertencimento seja a prática de caminhar pelo labirinto.
A caminhada pelo labirinto é uma forma muito antiga de meditar, de ir até nosso interior, com dúvidas, perguntas, buscas e escutar a nossa própria voz, nossa própria sabedoria. O labirinto é um símbolo ancestral de cura e transformação para o corpo, a mente e o espírito. A mente inconsciente está desperta e muitas vezes é como um microcosmos de sua própria vida revelado. As feridas do passado se transformam em sabedoria no presente.
O que é o labirinto?
O labirinto é, como dito, um antigo símbolo de cura e transformação para o corpo, a mente e o espírito. Pode-se encontrar labirintos nos pisos de muitas igrejas na Europa - o mais famoso está na Catedral de Notre-Dame, na França - mas também se pode ver a imagem do labirinto na arte religiosa do judaísmo, na arte indígena das Américas, nas culturas de Creta e do Tibet e em muitas outras tradições místicas. De fato, andar pelo labirinto é um rito tão antigo quanto a própria espécie humana; foram sendo construídos e percorridos há milhares de anos para orar, celebrar ritos de iniciação, nascimento, morte e crescimento espiritual.
Caminhar pelo labirinto é uma experiência poderosa: ao adentrá-lo, a pessoa se encontra em um campo de energia arquetípica muito intenso porque está percorrendo seu próprio caminho, sua própria história. Funciona como um espelho da sua própria vida. Por meio dos giros em espiral do caminho - cuja configuração está baseada na geometria sagrada - de alguma maneira pode-se desbloquear, harmonizar e curar suas feridas. De uma vez só, percorrer o labirinto equilibra ambos os hemisférios cerebrais, permitindo o acesso à intuição e à criatividade. Deixamos para trás nosso modo de pensar linear e analítico e nos movemos para uma consciência mais conectada ao nosso silêncio interior. Durante a Idade Média, a caminhada pelo labirinto foi vista como uma peregrinação: ao entrar, o caminhante se dispõe de tudo - pensamentos, angústias, medos - em um ato de limpeza e purificação. Ao chegar no centro, experimenta a iluminação - a claridade e o sentido de sua vida. Finalmente, no caminho de retorno para o lado de fora, sente a união, a integração com todo o universo. O labirinto representa o cosmos vivo, a rede holística que interconecta tudo a tudo.
Em seguida, toma um tempo para escrever ou desenhar suas experiências, imagens, sonhos, desejos e compromissos para sua vida e seu futuro. Caso realize a caminhada com outros, convida os demais participantes a compartilhar suas experiências. Com a juventude e
os ativistas climáticos, esse processo pode se centralizar em seu trabalho e no compromisso de trabalhar para ajudar a curar o planeta.
O labirinto sempre foi um instrumento de cura e transformação. Neste momento da história do planeta, estamos redescobrindo essa prática espiritual para curar-nos das feridas pessoais e globais. Hoje em dia, os labirintos podem ser encontrados em muitos lugares, como centros de retiro, hospitais e parques públicos. Aqui, no Chile, temos um labirinto que é uma réplica do labirinto de Notre-Dame, em Tremonhue, centro de eco-espiritualidade, em San Alfonso, Cajón del Maipo. Serás muito bem vindo(a)!