Venceremos a cruel realidade: A vida e a esperança nos pertencem

 

Tomás Valdez Rodriguez

Não é possível ignorar milhões de nossos irmãos, dos povos empobrecidos, chamados do terceiro mundo – dois terços da população mundial -, isto é, seres humanos que, por séculos, têm estado submetidos aos detestáveis marcos do sistema capitalista, (como afirmou Karl Marx: “O capitalismo nasce marcado de lama e sangue em qualquer lugar em que emerge”, e hoje tem a mesma força do momento em que Marx escreveu esta afirmação); são irmãos e irmãs que trazem na sua testa o sinal dramático das condições que os fatos do nosso tempo mostram como algo que pode ser apalpado. A extrema pobreza e a miséria em que milhões de pessoas sobrevivem, em condições infra-humanas, são inadmissíveis e questionam aos cristãos a forma em que, comodamente, temos vivido a nossa fé em Deus.
Estas são as perversões do sistema capitalista (individualista, que despreza o bem coletivo e gera a desigualdade), contrárias aos interesses dos povos do mundo e da humanidade, com suas funestas consequências, levando em conta que as mesmas esmolas, que oferecem os capitalistas através de suas instituições filantrópicas como “ajuda”, não podem ser dissimuladas, nem maquiadas e muito menos canceladas. O sistema capitalista e a sua crise civilizatória terminal, que ameaça a vida do nosso planeta, somente poderá ser superado se animarmos os nossos povos a assumir a tarefa social e teológica, indo por um caminho difícil, que precisa, como condição inicial, de uma atitude pessoal e coletiva de busca fundamental do bem comum.
A situação que temos colocado em pauta nos indica que estão presentes no tecido social aspectos mais radicais do que uma simples situação conjuntural – É histórica –, e é essa mesma situação que exige de nós cristãos, comprometidos com o Evangelho de Jesus (quando escutamos os lamentos de milhões e milhões de pobres deste planeta terra, tão abundante em riquezas), nos inserir num tempo de graça espiritual, encontrando-nos com o rosto de Jesus, nosso Senhor, nos rostos cheios de sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs que, para milhões de pessoas, vive escondido: os Pobres. Temos que nos fortalecer, para assumir as ingentes tarefas de trabalhar em unidade, com a visão de um futuro promissório que nos permita sair da crise gerada pelo capitalismo e, com base no conhecimento conseguido através da análise dos fatos concretos da cruel realidade produzida pelo capitalismo, lutar para não aceitar essa cruel realidade e lutar para não adaptar-nos e nem conformar-nos, mas, pelo contrário, lutar unidos para vencer este mal social, espelho da pobreza e da miséria, (agravado pela iniquidade e a injustiça que o capitalismo tem conseguido consolidar durante séculos de opressão), a alcançar assim uma sadia convivência na equidade e na justiça social.
Devemos recusar energicamente o ditado popular “A justiça tarda, mas não falha”, porque, por favor, são séculos de opressão e de miséria do capitalismo, “e quanto tarda!”, e, neste meio tempo, quantos são os danos e os sofrimentos que têm causado, sem nenhum conserto. Embora procurem lavar-se a cara, melhorando alguns aspectos do sistema, para causar uma melhor impressão para a sociedade, a única verdade é que o capitalismo não mudará até que a união dos povos e governos progressistas e revolucionários do mundo consigam vencer esta realidade. Já não dá mais para aguentar as crises cíclicas do capitalismo, que criam mais e mais miséria – apagam os países pobres – não haverá mais para o capitalismo o tão esperado quinto ciclo de recuperação parcial. Unamo-nos, lutemos, ganhemos a batalha para superar o historicamente e irreparável sistema capitalista. A esperança e o futuro são nossos.
Por quanto os capitalistas andem até os templos, para bater o seu peito, sem arrepender-se do que eles fazem, e muito menos mudar a forma do que fazem para aumentar suas desmedidas ganâncias; as suas instituições “benéficas” não podem acobertar as desconfianças, as dúvidas profundas e a repulsão que causam entre os povos empobrecidos pelo capitalismo neoliberal que aumenta a pobreza e a desigualdade, sendo que se baseia na apropriação das riquezas (No século XXI exacerba-se a ignomínia:
1 Comunidad Eclesial de Base-San Pablo Apóstol – Nicaragua. Docente investigador.
o 1% mais rico, possui tanta riqueza como o resto do mundo), e na plena mercantilização do trabalho e sua desvalorização.
Jesus é amigo da vida de forma integral
Os governos neoliberais-capitalistas, querendo reduzir a pobreza dos povos, tem implementado, a força, medidas quantitativas que, pelo contrário, têm resultado negativas. Não é, por exemplo, estabelecendo o controle da natalidade, nem impor restrições a processos econômicos, que se pode conseguir; somente com os processos que afirmam a existência da justiça e igualdade nas relações entre os povos, que se poderá conseguir. Os exploradores têm feito uso – abusando – das palavras de Jesus, que disse: “Porque sempre tereis pobres entre vós”, para demostrar que ser pobre é um fato irreversível, e que não se pode erradicar a pobreza. Não, senhores da “casa grande”, não aceitamos esta justificativa totalmente fora do contexto e do que, na realidade, disse Jesus. Nós, como crentes em Jesus Cristo, aceitamos o desafio de trabalhar para diminuir a pobreza, porque é uma obrigação cristã e moral. O que preocupa Deus é libertar o próximo das causas que o desumanizam, da miséria que o faz sofrer, e Jesus se coloca a favor das pessoas que estão sofrendo, e se opondo ao mal – hoje em dia o sistema capitalista neoliberal -. Lendo a Bíblia, podemos determinar que “O Reino de Deus” consiste em libertar os povos de tudo o que os oprime e que os impede de viver de maneira digna e feliz, na forma de como os impedem os capitalistas que têm se apropriado das riquezas da terra, que Deus criou para todos e todas. Por isso, nosso Senhor Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
Jesus veio ajudar para que os pobres saiam da miséria, não porque os pobres sejam melhores do que os demais, que não são, mas porque esta é a forma mais adequada para consertar as injustiças cometidas por uns seres humanos contra os mais desvalidos. Nós cristãos temos que ter claro que lutar contra a pobreza não significa usar da caridade com paternalismo, com assistencialismo, mas bem lutar para que se realize uma maior justiça na sociedade e nas suas leis; desta forma sim, estaremos demostrando o nosso verdadeiro amor ao nosso próximo. Jesus lutou para uma melhora para todos, e de maneira especial, para os pobres; ele deseja que tenhamos saúde integral, que consigamos o bem-estar de forma completa, que convivamos felizes com nossa família e a comunidade que nos rodeia; que consigamos uma vida cheia da providência de Deus. Não podemos pensar que os milagres ou fórmulas mágicas, poderão eliminar a pobreza e os sofrimentos dos nossos povos; não, o Reino de Deus não é algo etéreo, e temos que assumir juntos a luta para que mudem as coisas que impedem a felicidade de todos, a luta para mudar o estado de indolência diante dos sérios problemas que vivem os pobres, e trabalhemos para despertar a esperança e a fé que tudo possa mudar em favor dos pobres, que possamos construir a vida para todos como Deus quer que nós vivamos.
Diante da situação miserável do pobre, como a temos apresentado, não podem haver neutralidades, não podemos ficar em cima do muro; ou estamos comprometidos profundamente com os pobres, ou nos situamos prazerosamente em nossa zona de conforto. Mostrando assim, apatia diante dos fatos abomináveis que os pobres vivem.
Para concluir, devo dizer que nós cristãos, que dizemos praticar o evangelho de Jesus, temos que aceitar que mais importante do que acumular riquezas materiais, é o conhecimento de Deus, que nos deve impulsionar, guiar para a solidariedade, para o compromisso de vencer a batalha pela justiça e a equidade diante da causa dos pobres e oprimidos da terra. “Ai daquele que, usando de maldade e injustiças, constrói seu palácio e seus altos edifícios” (Jr 22,13-14). Se denunciamos as causas das injustiças e agimos para acabar com elas, estaremos construindo o Reino de Deus na terra. Sejamos fieis ao mandamento de Jesus: Amemos o nosso próximo, a vida e a esperança nos pertencem.